O advogado Frederick Wassef, que defende a família Bolsonaro, afirmou na sexta-feira (24) que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro usou o nome do presidente Jair Bolsonaro "sem consentimento". Em escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal (PF), Ribeiro disse que recebeu uma espécie de alerta do presidente sobre a Operação Acesso Pago.
— Ele usou o nome do presidente sem conhecimento, sem autorização. Cada um se explique pelo que fala — disse Wassef, em entrevista no Palácio do Planalto. — Compete ao ex-ministro explicar por que ele usa o nome do presidente de forma indevida.
O grampo motivou a remessa, ao Supremo Tribunal Federal (STF), do inquérito da Operação Acesso Pago, que investiga esquema de gabinete paralelo de pastores.
— Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa — diz o ex-ministro em telefonema com a filha Juliana Pinheiro Ribeiro de Azevedo, no último dia 9.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos na quarta-feira (22). A PF prendeu Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que seriam a cúpula do esquema. No entanto, eles foram libertados por ordem do desembargador Ney Bello e aguardam o desenrolar das investigações em liberdade.
A reportagem teve acesso à conversa interceptada pela PF. O ex-ministro afirma ter sido procurado por Bolsonaro.
— Hoje, o presidente me ligou Ele tá com um pressentimento novamente, de que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? — conta Ribeiro.
A filha do ex-ministro, então, pergunta se Bolsonaro pediu ao pai para parar de mandar mensagens.
— Eu não sei se ele (Bolsonaro) tem alguma informação. Eu estou ligando do meu celular normal, viu pai? — diz ela.
O advogado do presidente afirmou que a divulgação do áudio é um "vazamento criminoso de um material em segredo de Justiça". O Ministério Público Federal, em manifestação judicial, citou a existência da gravação e classificou como "possível interferência ilícita" de Bolsonaro na investigação, com o vazamento da investida da PF.
Segundo o advogado, Bolsonaro está "tranquilo porque não tem nada a ver com a história". Apesar do telefonema relatado por Ribeiro, o advogado diz que o presidente não mantém contato com o ex-ministro.
— O presidente não tem nenhuma informação sobre a investigação, não tem acesso a informação privilegiada, não interfere na PF — alega Wassef.
O advogado repetiu o discurso de aliados do presidente de que a máquina pública está sendo usada com fins políticos para prejudicá-lo às vésperas das eleições.
Ele também negou que o presidente tenha intercedido junto à PF para evitar a transferência de Ribeiro para Brasília, como ordenara a Justiça, onde seria interrogado pelo delegado Bruno Calandrini. O chefe da investigação afirmou que houve interferência superior no caso, o que o deixou sem autonomia para investigar. Segundo o delegado, Ribeiro recebeu tratamento privilegiado.
— O que está se cobrando é que as pessoas sejam presas e em questão de duas horas transferidas em aeronave particular. Por que isso não ocorreu vamos dar o nome de interferência? Mentira para atingir o presidente Bolsonaro — disse Wassef.