A CPI da Covid retomou os trabalhos nesta semana com depoimentos relacionados às negociações pela vacina indiana Covaxin, que vêm sendo alvo da comissão por conta de supostas irregularidades. Nesta terça-feira (14), depõe à comissão o empresário e advogado Marcos Tolentino da Silva.
Os senadores querem descobrir se Tolentino seria um "sócio oculto" da FIB Bank, empresa que teria oferecido uma carta-fiança de mais de R$ 80 milhões nas negociações entre a farmacêutica Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde para compra de 20 milhões de doses da vacina contra a covid-19 – o contrato de R$ 1,6 bilhão foi rescindido pela pasta em agosto.
Tolentino usou sua fala inicial para se defender. Negou que seja sócio da FIB Bank e disse que nunca participou de negociações com a Precisa.
O advogado afirmou ainda que, por estar internado com covid-19, não participou das negociações da vacina. A CPI vem mirando o FIB Bank para tentar entender o porquê de a empresa ter sido contratada para ser fiadora do contrato.
— Sou um sobrevivente, mesmo. Eu me encontrava internado na UTI do Hospital Sírio-Libanês. Fui entubado, extubado, fiquei quase 90 dias lá. Tive duas paradas cardíacas, infecção generalizada em todo esse período: fevereiro, março, abril, tendo que reaprender a andar depois, em estado de coma... Pessoas com quadro semelhante tiveram 2% de chance, e por Deus eu consegui sobreviver — disse.
O contrato de compra da Covaxin foi assinado pelas partes no final de fevereiro, quando o ministro da Saúde era Eduardo Pazuello. A Precisa era, naquele momento, a representante brasileira da farmacêutica Bharat Biotech, responsável pela fabricação do imunizante na Índia. Tolentino também negou que tenha tido contato com o ex-ministro e com Francisco Maximiliano, sócio-administrador da Precisa, em um suposto jantar para tratar sobre a vacina.
Sobre sua relação com políticos, Tolentino disse não ter contato com o presidente Jair Bolsonaro e afirmou que tem uma relação de amizade com o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. A CPI apura se Barros teve alguma ligação ou cometeu irregularidades nas negociações da Covaxin.
Condução coercitiva
Tolentino deveria ter aparecido na CPI na semana retrasada, mas apresentou um atestado médico e não compareceu. Caso não tivesse aparecido nesta terça no Senado, a CPI estava autorizada pela Justiça Federal do Distrito Federal a pedir a condução coercitiva dele e leva-lo até a comissão mesmo sem o seu consentimento.
O advogado e empresário tentou derrubar a condução coercitiva no Supremo Tribunal Federal (STF), mas teve pedido negado. A Corte deu um habeas corpus para Tolentino, o autorizando a ficar em silêncio e a não responder a perguntas dos senadores que possam incriminá-lo.
Mais um depoimento
Na quarta-feira (15), a CPI deve ouvir o advogado Marconny Albernaz de Faria, supostamente ligado à Precisa como lobista. O advogado também recorreu ao STF para não depor, mas o pedido foi negado. Caso não compareça à sessão sem justificar a ausência, ele poderá ser conduzido coercitivamente à CPI.
Relatório final
A CPI da Covid está na reta final. O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou nesta terça que irá entregar o relatório final entre os dias 23 e 24 de setembro. O parlamentar também disse que, ao final dos trabalhos, a CPI fará uma homenagem às vítimas da covid-19 no Brasil.