Após obter uma vitória preliminar na definição das regras que vão definir o candidato do PSDB à Presidência da República, o governador Eduardo Leite começa agora a desenhar a estratégia para vencer a prévia tucana. Diante do favoritismo do governador de São Paulo, João Doria, entre os filiados, Leite aposta no bom trânsito na cúpula do partido.
Marcada para 21 de novembro, a disputa tem até o momento quatro postulantes. Além de Leite e Doria, pleiteiam a vaga o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Nos bastidores, dirigentes admitem que Virgílio é o azarão e Jereissati pode abandonar a corrida em favor do gaúcho.
Foi graças a uma articulação com a executiva nacional que Leite conseguiu manter a competitividade na prévia. Por 21 votos a 11, o partido decidiu que o voto dos filiados terá peso de 25%, ante 75% para quem detém mandato. Doria defendia uma eleição direta, mas diante da derrota iminente foi reduzindo sua reivindicação para 50% e depois 35%. Não funcionou.
Em conversas ao telefone e por WhatsApp com boa parte da direção partidária, Leite conseguiu arregimentar votos para diminuir o peso dos filiados na disputa. Ao cabo, Doria obteve apoio apenas dos representantes de São Paulo na executiva, além de um deputado do Mato Grosso do Sul, um de Minas Gerais e do senador Izalci Lucas (DF).
O resultado foi considerado uma derrota de Doria porque 22% dos 1,36 milhão de filiados do PSDB são de São Paulo, o que colocaria o governador em vantagem na prévia. Agora, serão quatro grupos de eleitores, cada um com peso de 25%: os filiados; prefeitos e vice-prefeitos; vereadores e deputados estaduais; além de governadores e vices, ex-presidentes do partido, senadores, deputados federais e membros da executiva nacional.
— Trabalhamos para que a prévia tivesse um formato que não privilegiasse ninguém. Ainda assim, Doria leva vantagem por ser governador do Estado com maior número de filiados. Mas trabalhando bem podemos ganhar — afirma o presidente do PSDB no Rio Grande do Sul, deputado Lucas Redecker.
Consolidada a primeira vitória, Leite passa a planejar os próximos passos. Ele pretende acentuar as viagens para São Paulo aos finais de semana, aproximando-se ainda mais da cúpula partidária, e garimpar espaços na imprensa nacional. Estrategistas de sua candidatura reconhecem que Doria é muito mais conhecido no restante do Brasil e tem a seu favor a intermediação para produção no país da vacina CoronaVac.
Leite também pretende se debruçar sobre o eleitorado tucano. O cadastro do partido é considerado inconfiável. Dos 1,3 milhão de filiados, apenas metade, cerca de 658 mil, estaria em situação regular e com fácil identificação.
A ideia é dividir as atenções. Como é visto como o futuro do PSDB pela velha guarda do partido, formada por Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e o próprio Jereissati, Leite quer reforçar os vínculos com os chamados “cabeças-brancas”. Já para estabelecer uma comunicação direta e eficaz com os filiados não está descartada a contratação de profissionais de marketing político.
Ciente da simpatia que Leite desfruta na executiva, Doria tende a concentrar seus esforços em sua fortaleza eleitoral. Como São Paulo abriga cerca de um terço dos municípios governados pelo PSDB no país, ele busca se aproximar ainda de prefeitos e vereadores. Nos últimos meses, Doria já visitou 50 cidades paulistas. A meta para os próximos meses é de quatro visitas por semana.
Para desgastar o gaúcho, Doria afirma que Leite tem o apoio de Aécio Neves. Candidato tucano à Presidência em 2014, Aécio ainda mantém muita influência na máquina tucana e tem trabalhado por Leite na preparação para as prévias. O atual inquilino do Palácio Piratini não recusa o apoio, mas busca manter uma distância prudente de Aécio, cujas complicações na Justiça quase o levaram à expulsão do partido.
Leite também conta com um apoio velado de Jereissati. O senador não tem ambição de concorrer à Presidência, mas teve o nome lançado após dirigentes mais antigos temerem uma luta fratricida entre Leite e Doria.
O atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, também impulsionou a candidatura de Jereissati após se incomodar com uma conversa de Leite com o Podemos. Estreitando laços com possíveis aliados no futuro, o governador acabou sendo convidado para migrar para o Podemos pela presidente do partido, Renata Abreu. Não disse sim, nem não, mas a dubiedade da resposta acabou irritando Araújo.
Em conversas reservadas, Jereissati afirma que Leite deve ser o candidato tucano ao Palácio do Planalto, mas talvez não agora. O senador entende que o gaúcho deveria se preservar na eleição de 2022 e passar os próximos quatro anos viajando o país para ganhar corpo como uma liderança nacional, concorrendo então em 2026. Jereissati, porém, admite que poderia até mesmo declinar da própria candidatura caso Leite representasse a pacificação do partido e sobretudo uma chance maior de vitória nas urnas no ano que vem.