Por trás da aposta no governador Eduardo Leite como possível candidato à Presidência em 2022 estão nomes com influência política de norte a sul do país. A lista de articuladores inclui presidentes do PSDB em Minas Gerais e na Bahia e herdeiros de famílias importantes na cena eleitoral. O cenário, porém, é adverso. Além da candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição, Leite tem um adversário interno na sigla, o também governador João Doria (SP). Ambos disputam espaço numa legenda que acumula derrotas e está longe do Palácio do Planalto há duas décadas.
A exposição nacional de Leite, que também se destaca ao encabeçar o movimento de governadores nos embates com Bolsonaro em relação à pandemia, ganhou holofotes no dia 11. Naquela data, antes de estourar a nova onda do coronavírus, tema que domina a agenda do governador hoje, um churrasco preparado para receber a bancada federal do partido trouxe a Porto Alegre 13 deputados e um senador. O rol de convidados representou Estados como Paraíba, Alagoas, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rondônia.
— Todos ficaram muito impressionados com o discurso, a narrativa do governador. O almoço serviu para que ele pudesse apresentar os dois primeiros anos de gestão e mostrar a capacidade de diálogo. Acredito que deu certo. As mensagens que recebi dos colegas foram muito positivas — relata o deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB), que participou do encontro, auxiliou na recepção e é conterrâneo de Leite, a quem apoia e admira.
Daquela lista, além do gaúcho Lucas Redecker, vice-líder do PSDB na Câmara e um dos organizadores do evento, ao menos quatro parlamentares se destacam na costura dessa nova etapa da carreira do governador: Pedro Cunha Lima, filho e neto de influentes políticos paraibanos, Rodrigo Cunha, senador mais votado de Alagoas em 2018, Adolfo Viana, presidente do diretório do PSDB baiano, e Paulo Abi-Ackel, que exerce o quarto mandato como deputado federal, comanda o PSDB mineiro e tem proximidade com a família de Aécio Neves.
Para Abi-Ackel, filho de Ibrahim Abi-Ackel, ministro da Justiça no governo de João Figueiredo, e homem com trânsito livre em Brasília, o caminho de Leite para aglutinar as forças de centro em 2022 deve ser trilhado aos poucos, sem jamais deixar de lado o Rio Grande do Sul — o que, aliás, o próprio governador já deixou claro.
Quando a crise sanitária der trégua, a avaliação é de que Leite deve seguir conversando com jornalistas de veículos do Rio de Janeiro e de São Paulo sobre questões nacionais e, assim que possível, ampliar sua presença no Congresso.
— A ideia é fazer com que o governador possa participar das decisões e estar com pessoas mais influentes no partido. Depois, mais adiante, ele poderá dar conferências em outras regiões, mas tudo de maneira bem pensada para não atrapalhar o trabalho no governo do Estado — ressalta Abi-Ackel.
Logo após o almoço no Piratini, Leite concedeu entrevistas a quatro jornais do centro do país e a programas de três emissoras de TV. O movimento, que agora passa por uma pausa, é definido como “ bem-vindo” pelo presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo.
O deputado diz que não veio ao churrasco na Capital para manter-se neutro, mas destaca como positivo o fato de o partido ter mais de uma alternativa na campanha que se avizinha. Araújo vê na ascensão de Leite uma “demonstração de que o PSDB tem formado novos e excelentes quadros”.
– Eduardo é o mais preparado da sua geração. Todos o veem com bons olhos. E, para nós, ter dois possíveis pré-candidatos (Leite e João Doria, governador de São Paulo) é um problema bom – diz Araújo, que por pouco não perdeu o comando da sigla para Doria.
Questionado sobre o prazo para a escolha do nome que representará os tucanos em 2022, o deputado afirma que a intenção é chegar a um consenso ainda neste ano.
— Esse primeiro momento é voltado ao convencimento dos quadros partidários, o que precisa ocorrer até o fim de 2021, para que o partido tenha tempo, em 2022, para apresentar o seu candidato ao país — destaca Araújo.
Apesar do entusiasmo dos pares, Leite tem dito que apenas aceitou a convocação do PSDB para discutir ideias e propostas para o Brasil e que não pretende deixar os gaúchos em segundo plano.
Principais nomes da articulação
Lucas Redecker (PSDB-RS)
Vice-líder do PSDB na Câmara, o deputado federal Lucas Redecker é um dos gaúchos à frente do movimento que pode levar o governador Eduardo Leite a concorrer à Presidência da República em 2022. Da mesma geração de Leite, Redecker, 39 anos, foi coordenador-geral da equipe de transição do governador em 2018 e mantém discurso afinado com o companheiro de partido. Só não integra o alto escalão da gestão estadual porque optou por priorizar o mandato no parlamento.
Além de aliado fiel, Redecker mantém boas relações no PSDB nacional. Ajudou a organizar o almoço oferecido pelo Palácio Piratini à bancada federal, no último dia 11, e, desde então, diz já ter recebido novos pedidos de agenda com o governador, de deputados que não puderam comparecer.
— O meu papel é tentar auxiliar na construção dessa alternativa para o PSDB. Também acredito que, para o Rio Grande do Sul, é muito importante participar desse debate e ter um nome qualificado disposto a dialogar. É precoce dizer o que vai acontecer, até porque a prioridade total é o governo do Estado. Mas tenho orgulho de fazer parte disso. É natural que Leite se torne uma liderança nacional — diz o deputado.
Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)
No churrasco oferecido pelo governador Eduardo Leite aos tucanos, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente do PSDB de Minas Gerais, foi um dos primeiros a pedir, de forma incisiva, a entrada do gaúcho na disputa presidencial. Pela força política, o mineiro é considerado figura relevante no movimento.
— Já sou veterano, tenho vários mandatos, represento Minas, que é um dos Estados mais populosos da federação e, de fato, fui um dos primeiros a falar. E falei para valer. Desejo ver Eduardo protagonizando o debate — diz.
Respeitado pelos pares, Abi-Ackel integra um tradicional clã mineiro, próximo à família do deputado federal Aécio Neves, que, embora se mantenha longe da mobilização pública pró-Leite, não esconde a mágoa em relação a João Doria — o governador paulista exigiu a expulsão de Aécio do partido inúmeras vezes, por conta das suspeitas de irregularidades que recaem sobre ele.
Abi-Ackel confirma a longa amizade e o ressentimento de Aécio, mas evita entrar em polêmicas. Garante que o amigo “tem noção de que está passando por problemas e que deve permanecer à margem” e diz que “Doria é um grande quadro do PSDB". Mesmo assim, não esconde a preferência:
— Acredito que Leite tem mais condições de interagir com o Brasil. É um nome preparado e capaz de somar.
Pedro Cunha Lima (PSDB-PB)
Filho do ex-senador Cássio Cunha Lima e neto do ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima, o deputado federal Pedro Cunha Lima representa a nova geração de uma família influente na política, com inserção no nordeste brasileiro. Ele resume assim o seu papel na articulação do movimento em favor do governador Eduardo Leite:
— Me considero um ativista, alguém que está engajado. Existe em mim uma crença sincera. Desde já, propago o nome de Eduardo, peço para as pessoas acompanharem o trabalho dele, indico o governador do Rio Grande do Sul como alguém que deve entrar no radar de todo mundo.
Três anos mais novo que Leite, Cunha Lima, 32 anos, se identifica com o gaúcho na forma de atuação e reconhece que há entre eles uma identidade geracional. Como Leite, ele defende um Estado moderno construído na base do diálogo, sem descuidar o social.
— De briga, o Brasil já está cheio. O PSDB nunca teve vocação para ser a oposição do quanto pior melhor, e a postura política do Eduardo tem nos representado. Ele pode nos ajudar a mostrar para a população que existe alternativa possível. Ele tem capacidade técnica, muito preparo e é capaz de construir consensos — destaca Cunha Lima, que preside o Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política do PSDB.
Rodrigo Cunha (PSDB-AL)
Único senador presente ao almoço com a bancada federal do PSDB com o governador Eduardo Leite, Rodrigo Cunha — vice-líder do partido no Senado — pode ajudar Leite a difundir as realizações do governo e as ideias para o Brasil na região de Alagoas.
Formado em Direito com pós-graduação em Gestão de Projetos e Direito do Consumidor, Cunha foi o senador mais votado do seu Estado em 2018 e, antes disso, já havia sido o deputado estadual com mais votos em 2014. Também já atuou como superintendente do Procon em Alagoas e vice-presidente da Associação Brasileira de Procons.
Como Leite, o senador é jovem — tem 39 anos — e frequentou o programa de formação de líderes da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps).
Durante o churrasco servido no Galpão Crioulo do Palácio Piratini, Cunha disse que o caminho para consolidar a candidatura do gaúcho é dialogar com a sociedade e mostrar os resultados do trabalho feito no Rio Grande do Sul, que definiu como “exemplar”. O senador também se ofereceu para ajudar a organizar a futura agenda do governador, que, quando a situação da pandemia melhorar, poderá usar os finais de semana para ampliar a participação no debate nacional e, no momento oportuno, visitar outros Estados.
Adolfo Viana (PSDB-BA)
Presidente do PSDB na Bahia, o deputado federal Adolfo Viana, 40 anos, define o governador Eduardo Leite como "sensato" e "equilibrado".
— É um dos quadros mais promissores da política nacional. É sensato, equilibrado e possui a experiência de quem já ocupou os mais relevantes cargos públicos. É motivo de orgulho para o nosso partido contar com um quadro tão qualificado e que está preparado para debater os temas nacionais em alto nível — destaca.
Viana integra o grupo de parlamentares do PSDB que emitiu nota pública, no início de fevereiro, defendendo a permanência de Bruno Araújo na presidência da sigla, em reação à tentativa do governador de São Paulo, João Doria, de impor seu nome.
Além de comandar o partido na Bahia, Viana é vice-líder do PSDB na Câmara, junto de Lucas Redecker, e, antes de ser deputado federal, foi duas vezes deputado estadual. Vem de uma família com tradição política regional, que pode ajudar a abrir espaço para o governador gaúcho no quarto mais populoso Estado do Brasil, onde ainda é pouco conhecido.
— A Bahia estará de portas abertas para nosso governador Eduardo Leite — garante o deputado baiano.
E Luciano Huck?
O apresentador do TV Globo nunca escondeu a afinidade com Eduardo Leite e o desejo de que o governador gaúcho ganhe projeção, de preferência ao seu lado. Luciano Huck tem, inclusive, estimulado o amigo a ampliar o protagonismo no cenário nacional.
A última notícia envolvendo a dupla circulou em janeiro, quando a Revista Veja publicou nota sobre a possível de decisão de Huck de concorrer ao cargo de presidente da República, tendo o governador gaúcho como vice.