Foi quase ao final do almoço, quando os 21 políticos tucanos reunidos no Palácio Piratini saboreavam doces pelotenses de sobremesa, que o governador Eduardo Leite avalizou o movimento que busca lançá-lo como alternativa do PSDB à presidência da República. O encontro realizado nesta quinta-feira (11), em Porto Alegre, explicita o racha no partido e deflagra uma disputa interna para a sucessão do presidente Jair Bolsonaro.
– Aceitei essa missão de levar essa experiência nas boas conversas que teremos Brasil afora - resumiu Leite ao final do churrasco oferecido no Galpão Crioulo.
O objetivo é se contrapor às pretensões do governador de São Paulo, João Doria. Numa investida considerada desleal e precipitada pela bancada federal do PSDB, Doria cogitou assumir a presidência do partido. A manobra visava a controlar as verbas eleitorais da sigla e minar as resistências a sua pré-candidatura ao Planalto. A reação foi imediata e culminou com o desembarque da comitiva tucana em Porto Alegre.
Coube ao deputado Paulo Abi-Ackel (MG) a convocação mais incisiva.
– Fizemos um chamamento para que Eduardo Leite ande pelo país, se apresente mais em Brasília. Ele pode se apresentar como personagem nacional e se colocar como pré-candidato à Presidência. É, de longe, quem conta com a maior simpatia da bancada na Câmara e no Senado - disse Abi-Ackel, presidente do diretório tucano em Minas Gerais.
Das quase duas horas em que recebeu o grupo, Leite usou cerca de 40 minutos para exibir as realizações de seu governo, em especial as reformas, concessões e o sistema de distanciamento controlado. Ele também distribuiu um livreto com iniciativas da gestão e listou as demandas do Estado no plano federal.
Os parlamentares elogiaram as conquistas e afiançaram apoio às pautas que dependem do Congresso, mas logo a conversa seguiu o rumo eleitoral. O senador Rodrigo Cunha (AL) foi o primeiro a falar, mas um a um, os visitantes enfileiraram queixas sobre a postura de Doria, sobretudo à forma como tenta impor sua candidatura ao partido e a oposição radical que alimenta em relação ao governo Bolsonaro. Ao cabo, pediram a Leite autorização para fortalecer seu nome nas discussões sobre a eleição do próximo ano.
- Conseguimos o resultado que buscamos - celebrou Cunha.
Nos próximos meses, o gaúcho irá aumentar a participação no debate nacional. A ideia é conceder ainda mais entrevistas a veículos do centro do país - nos últimos dias, foram ao menos quatro. A imagem a ser projetada é a de um articulador político hábil e moderado, bem como a de um gestor moderno e comprometido com o ajuste das contas públicas.
Leite, contudo, fez questão de desidratar o tom de revanche a Doria que circundou o almoço, mas pontuou a necessidade de buscar conciliação, sem descartar futuras pretensões presidenciais.
– Presidência é destino, circunstância. O meu papel é ajudar. Tem uma forma de fazer política que precisa ser recuperada, focando em resultados que melhorem a vida da população e não em conflitos estéreis . O que se dá a largada aqui não é a uma candidatura. Não é o lançamento de um nome, mas sim de um movimento dentro do partido. A definição de quem vai liderá-lo é para o momento apropriado, mais à frente - disse Leite.
Os participantes do almoço
Deputados federais
Adolfo Viana (BA)
Bia Cavassa (MS)
Célio Silveira (GO)
Daniel Trzeciak (RS)
Edna Henrique (PB)
Eduardo Barbosa (MG)
Geovania de Sá (SC)
Lucas Redecker (RS)
Mariana Carvalho (RO)
Otavio Leite (RJ)
Paulo Abi-Ackel (MG)
Pedro Cunha Lima (PB)
Pedro Vilela (AL)
Senadores
Rodrigo Cunha (AL)
Deputados estaduais
Luiz Vianna
Mateus Wesp
Pedro Pereira
Zilá Breitenbach
Secretários
Artur Lemos (Casa Civil)
Faisal Karam (Educação)