A maior parte da bancada gaúcha já decidiu seu voto na eleição pela presidência da Câmara. Dos 31 deputados, ao menos 15 estão apoiando Arthur Lira (PP-AL), o candidato mais afinado com o governo federal. Outros nove prometem votar em Baleia Rossi (MDB-SP), cujo principal padrinho é o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
À frente de uma dissidência da esquerda, Luiza Erundina (Psol-SP) tem a simpatia de dois representantes do Rio Grande do Sul. Já Marcel van Hattem (Novo), único gaúcho na eleição, por enquanto conta apenas com o próprio voto. Três parlamentares se dizem indecisos (veja tabela ao final do texto).
Considerado favorito, Lira ampliou seu leque de apoio nos últimos dias, angariando defecções em quase todos os partidos. O próprio DEM de Maia rachou e vê boa parte dos deputados votando em Lira. Ampliando a fissura, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, vai deixar a Esplanada e reassumir o mandato apenas para votar no aliado.
A aliança de Rossi com o PT também colaborou para atrair votos até mesmo de quem não simpatiza com o grupo político do alagoano, mas quer distância da esquerda e da ameaça de impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
— A escolha é um plebiscito, pró ou contra o impeachment. E eu sou contra — justifica Jerônimo Göergen (PP).
Ao perceber que o flerte com um eventual processo contra Bolsonaro estava lhe tirando votos, Rossi passou a ventilar contrariedade com a iniciativa. O movimento, porém, parece ter vindo tarde demais. Na contabilidade eleitoral que circula pelos corredores da Câmara, já há mapas de votação mostrando Lira com cerca de 300 votos, mais do que os 257 necessários para uma vitória no primeiro turno.
Na bancada gaúcha, Rossi conta com apoios no PDT, PT e MDB, mas em todos perdeu ao menos um voto. Suspenso pela direção pedetista por ter apoiado a reforma da previdência, Marlon Santos diz ter mais identificação com Lira. Já para o ex-ministro Osmar Terra (MDB) pesa a fidelidade a Bolsonaro. O petista Dionilso Marcon prefere votar em Erundina e esperar um eventual segundo turno para se alinhar aos colegas de partido.
— Não consigo ir de Baleia, nem de Lira. Vou votar na minha amiga e companheira de esquerda — afirma.
No PSDB, Lucas Redecker e Daniel Trzeciak estão indecisos. Ambos esperam conversar com os dois candidatos nos próximos dias para definir o voto, condicionado sobretudo a pautas anticorrupção, como a prisão após condenação em segunda instância. Essa bandeira tem sido uma prioridade de van Hattem, cuja esperança de vitória está escorada ao sigilo do voto na cabine eleitoral.
— Muitas vezes os líderes partidários fecham alianças sem conversar com os deputados. Então muitos têm me dito que vão votar em mim, embora não possam admitir em público. Enquanto Lira e Baleia esperam o voto de traição, eu conto com o voto de convicção — diz o deputado, que concorreu à presidência em 2019 e obteve 23 votos.
O deputados Afonso Hamm (PP) votará em Arthur Lira. Em tratamento para covid-19, Heitor Schuch (PSB) não irá a Brasília e lamenta não poder votar de forma remota, a exemplo do que ocorreu na maioria das sessões durante a pandemia.
— Eu votaria no Baleia, mas recebi o resultado positivo na segunda-feira (25) e estou em isolamento, me tratando. Gostaria muito de participar da eleição, mas infelizmente decidiram que a votação será só presencial. Acho um absurdo, mas não há o que fazer
— resigna-se Schuch.