O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Com a eleição marcada para 1º de fevereiro, a última semana de campanha será decisiva para a escolha do presidente da Câmara dos Deputados nos últimos dois anos do governo de Jair Bolsonaro. Mesmo sem atrair tanto interesse popular, a eleição tem ampla relevância política, visto que o deputado escolhido será responsável por ditar a pauta de votações da Casa e também por decidir, monocraticamente, se acolhe ou não pedidos de impeachment do presidente da República.
Embora oito deputados tenham anunciado candidatura, (entre eles, o gaúcho Marcel Van Hattem, do Novo), a disputa está polarizada entre Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão e apoiado pelo Palácio do Planalto, e Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional do MDB, lançado pelo grupo do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Enquanto Lira se apresenta como alguém disposto a harmonizar a relação entre os poderes para facilitar a aprovação de reformas, Baleia tem como principal bandeira a independência do Legislativo.
Para além dos discursos oficiais, na prática, a vitória do deputado alagoano garantirá maior poder de influência do governo nas votações da Câmara, enquanto um triunfo do paulista representaria maior autonomia dos parlamentares na definição da pauta, além de alguma chance de aceitação de um pedido de impeachment.
Nos últimos dias, o acirramento se acentuou, com Lira e Baleia trocando alfinetadas no Twitter. Em paralelo, as negociações se intensificaram e o deputado do MDB conseguiu atrair para seu grupo o Solidariedade, que tem 14 deputados e estava com o adversário. Já o progressista tirou do concorrente o apoio oficial do PSL — ainda que a maioria da bancada já estivesse inclinada a lhe apoiar, à revelia da orientação partidária.
Os dois deputados formaram blocos que superam os 230 deputados, mas nenhum deles tem garantia de que pode vencer em primeiro turno — seriam necessários 257 votos. Isso ocorre porque, como a votação é secreta, os deputados podem trair a orientação partidária e votar em um candidato que não é apoiado pelo próprio partido.
Presidente estadual do MDB, o deputado federal Alceu Moreira defende a candidatura de seu colega de partido e garante que, se eleito, Baleia não fará oposição ao governo e tratará as votações de temas densos, como as reformas tributária e administrativa, com “equilíbrio”.
— Nossa preocupação é que, nesta eleição da Câmara, volte o toma-lá-dá-cá, ter que fazer um inventário do governo para contentar o parlamento. A cada votação (o Executivo) ter de dar um naco do orçamento ou um pedaço do governo para ganhar. Isso nunca deu certo anteriormente — diz Moreira, em referência indireta às práticas do Centrão, grupo conhecido por cobrar espaços no governo em troca de apoio no Congresso.
Apoiador de Lira, o secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho (PP), que se licenciará do cargo para reassumir o mandato de deputado federal e votar na eleição da Câmara, diz que, caso o colega de partido seja eleito, os parlamentares gaúchos terão as “portas abertas” na presidência da Câmara.
— Nesse último ano, o presidente (Rodrigo Maia) capitaneou as ações e colocou projetos de interesse próprio na pauta, deixando de lado as comissões, os colégios de líderes e as lideranças partidárias. O Arthur tem o compromisso de ouvir os deputados.
Aliás
Mesmo sabendo que não tem chances de vencer, o Novo lançou o deputado gaúcho Marcel Van Hattem como candidato à presidência da Câmara para marcar posição na defesa de pautas como a prisão após condenação em segunda instância e o fim do foro privilegiado. Marcel disputou em 2019 e ficou em quinto lugar, com 23 votos de 513.
Expectativa
Entre políticos do PP gaúcho, reina a expectativa de que, caso Arthur Lira consiga se eleger presidente da Câmara, o presidente Jair Bolsonaro volte a se filiar ao partido. Bolsonaro integrou a legenda em dois momentos: entre 1993 e 2003, quando o partido se chamou PPR e PPB, e entre 2005 e 2016, já sob o nome de Partido Progressista.
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