Revoltados com a recusa do governo do Estado em devolver à bandeira laranja o status de risco das regiões da Serra e da Fronteira Oeste, alguns prefeitos tentam ganhar tempo ao esticar ao máximo o início das restrições à atividade econômica impostas pela prevenção ao coronavírus.
Em pelo menos oito municípios dos 60 atingidos pelas novas medidas de distanciamento social, os gestores ignoraram a bandeira vermelha em vigor desde terça-feira (16) e buscam reverter a decisão do governador Eduardo Leite.
Na Fronteira Oeste, o comércio funcionou normalmente nesta quarta-feira (17) em Uruguaiana, Alegrete, São Gabriel, Barra do Quaraí e Maçambará. A situação é semelhante em Vacaria, Garibaldi e São José dos Ausentes, na Serra.
Em comum, os prefeitos têm a disposição de só aderirem à bandeira vermelha caso receberem notificação judicial ou ao fim do prazo de 48 horas concedido pelo Ministério Público (MP) para entrega de informações sobre a adoção de medidas de contenção social.
— Recebi a notificação ontem (terça-feira) por e-mail, mas só acusei o recebimento às 9h de hoje (quarta-feira). Cada hora é importante para nos mantermos na bandeira laranja — diz o prefeito de São Gabriel, Rossano Gonçalves.
Em videoconferência realizada no final da manhã, todos os gestores da Fronteira Oeste decidiram apresentar ao governador um novo ofício com pedido “urgente e extraordinário” de revisão da bandeira vermelha. No documento, eles contestam a existência de apenas 35 pacientes de covid-19 recuperados na região, ante a permanência de 45 ativos. Conforme os prefeitos, o número de recuperados se aproxima de cem.
— Espero que o governador atenda o nosso pedido. Enquanto isso, vou esperar até o último momento para editar um decreto mais restritivo — avisa o prefeito de Barra do Quaraí, Iad Choli.
Em Garibaldi, houve protesto dos comerciantes diante da prefeitura. Contrariando as regras que ele mesmo editou, o prefeito Antonio Cettolin se juntou à aglomeração e, sem máscara, aderiu aos manifestantes. Após reunião com técnicos da prefeitura, ele disse que irá recorrer à Justiça pois os números da cidade são “bons” e a “bandeira é amarela”.
— O município jamais vai virar as costas pra vocês. Estamos juntos — declarou Cettolin.
Em Vacaria, o prefeito Amadeu Boeira também discorda da nova classificação imposta pelo governo do Estado. Para Boeira, a cidade segue em bandeira laranja. A resistência, contudo, só irá enquanto o município não receber a visita de um oficial de Justiça.
— Se formos notificados judicialmente vamos cumprir a lei. Vamos contestar a decisão, mas seguir a lei — comenta o secretário de Planejamento e Urbanismo, João Alfredo Acauan Filho.
A inconformidade com o novo status de risco é generalizada na Serra. GaúchaZH falou com 33 dos 49 prefeitos da região. Quase todos reclamam dos critérios adotados pelo Palácio Piratini e alegam que a situação está controlada, mas admitem que não há outro caminho que não seja a submissão ao governo do Estado.
— A vontade é de não acatar. Se fosse só por nós, estaríamos sob bandeira amarela. Estamos sendo penalizados por fazer parte da região — sustenta o prefeito de Paraí, Gilberto Zanotto.
Prefeito de Cotiporã e presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste, José Carlos Breda conta que a entidade decidiu criar um observatório regional em parceria com a Universidade de Caxias do Sul. O objetivo é aprofundar o estudo sobre os dados referentes à estrutura hospitalar da região e ao número de internações, óbitos e recuperações de pacientes covid-19.
De posse de informações mais precisas, ele pretende apresentar ao governador um cenário mais fidedigno das condições sanitárias dos municípios.
— Não adianta ficar gritando — resume.
*Colaboraram Milena Schäfer, Aline Ecker e Gabriel Jacobsen