A Operação Camilo, da Polícia Federal, cumpriu mandados na quarta-feira (27) no âmbito da investigação de um esquema que teria desviado pelo menos R$ 15 milhões da área da saúde em contratos firmados pela prefeitura de Rio Pardo com uma Organização da Sociedade Civil (OSC). Foram presas temporariamente 15 pessoas, entre elas o prefeito do município, Rafael Barros (PSDB).
Nesta quinta-feira (28), GaúchaZH confirmou os nomes de todos os detidos. As identidades vinham sendo mantidas em reserva pelas autoridades.
Ao todo, foram onze presos no Rio Grande do Sul, sendo seis em Porto Alegre, e quatro em outros Estados - dois em Santa Catarina, um em São Paulo e uma mulher no Rio de Janeiro. Os presos em outros Estados chegaram em um avião da PF ao Rio Grande do Sul na tarde desta quinta.
A lista ao qual a reportagem teve acesso revela que a maior parte dos presos é relacionada às organizações investigadas. Entre eles, está o presidente e o superintendente da OSC que mantinha contrato com a prefeitura. Também há empresários, um advogado e até um policial militar da reserva.
Em Rio Pardo, o contrato era com a Associação Brasileira de Assistência Social, Saúde e Inclusão (Abrassi). Essa organização, segundo o apurado, é só um dos braços de uma outra, que é investigada em pelo menos outros 20 inquéritos entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Além de 15 presos, foram cumpridos 61 mandados de busca e apreensão em 17 municípios dos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foram apreendidos 31 veículos e R$ 400 mil em espécie.
Lista das pessoas detidas
Monaliza Monna Barbieri Gomes
Engenheira, ela foi presa no Rio de Janeiro. Segundo o apurado, ela era responsável pela obra de ampliação de leitos de UTI para tratamento de covid-19 na cidade de Rio Pardo. No entanto, não acompanhava a construção dos novos leitos.
Michel Becker
Preso em Florianópolis. Empresário, é um dos sócios de uma empresa de alimentação de Santa Catarina que prestava serviços para o Hospital Regional do Vale do Rio Pardo. A instituição era uma das administradas pela Abrassi em Rio Pardo.
Juarez dos Santos Ramos
Ex-presidente do Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev), uma espécie de administradora da Abrassi. O Isev foi responsável, entre outros, pela administração do Hospital de Taquara e de Dois Irmãos. Em ambos, foi o instituto foi alvo de denúncia do Ministério Público, porque teriam ocorrido desvios milionários.
Milton Schmitt Coelho
Procurador-geral do município de Rio Pardo, antes trabalhou como advogado do prefeito de Rio Pardo, Rafael Reis Barros.
Rafael Reis Barros
Prefeito de Rio Pardo. Além dos desvios de recursos, PF e MP dizem que ele ordenou uma desinfecção de ruas da cidade contra o coronavírus na qual, no lugar de desinfetante, ia somente água.
Luciano da Silva
Empresário, foi preso em Portão. A investigação aponta que Luciano seria um dos laranjas do esquema.
Julio Cesar da Silva
Preso em Florianópolis. Empresário. Até fevereiro, ocupava um cargo em comissão na Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis. Sua construtora tem contrato com a Abrassi.
Fabiano Pereira Voltz
Atual superintendente da Abrassi. Trabalhou por 10 anos como diretor do Instituto Saúde e Educação Vida. Isev é uma das empresas que a investigação aponta como ligadas aos esquema.
João Batista Mello da Silva
PM da reserva. É sócio de uma empresa de portaria que presta serviços para o Hospital Regional de Rio Pardo. O outro dono da empresa, Mário Cardoso, foi alvo de mandado de busca e apreensão. Mario já foi secretário municipal de Canoas durante a gestão de Jairo Jorge e candidato a vice-prefeito em 2016. O ex-PM foi diretor operacional do gabinete na gestão de Jairo. Em 2015, matou um suspeito de assalto enquanto usava um carro emprestado.
Carlos Alberto Serba Varreira
Secretário-geral do partido Solidariedade no Estado. Ele é investigado por ter sido gestor da Associação Brasileira de Assistência Social, Saúde e Inclusão (Abrassi), principal alvo da operação.
Renato Carlos Walter
Advogado, foi preso em Porto Alegre. É um dos sócios da Abrassi. Também tem participação em outras duas empresas investigadas por terem sido subcontratadas.
Leomar Maurer
Atual Secretário da Saúde de Cacequi. Já ocupou cargos de direção do Isev. Foi absolvido por transportar um time de futebol da empresa em um ônibus da prefeitura em outro processo.
Lucia Bueno Manieri
Foi vice-presidente da Associação São Bento. Investigação aponta que empresa é uma das laranjas do Isev. Em Florianópolis, associação foi responsável por gestão de creches e, após denúncia, teve contrato rompido. Já foi denunciada pelo MP por desvio em hospital de Dois Irmãos.
Ricardo Roberson Rivero
Atual presidente da Abrassi. É enfermeiro, e já foi presidente do Conselho Regional de Enfermagem (2012 - 2014) e agora é investigado por comprar equipamentos vencidos para profissionais de saúde.
O conselho enviou nota sobre a prisão. Confira abaixo.
Edemar João Tomazeli
Preso em São Paulo, aparece em documentos como sócio de uma empresa de propaganda e marketing. No entanto, investigação aponta que ele é o fundador da Abrassi. Segundo o apurado, ele teria aberto organizações sociais e repassado para terceiros. Com isso, ganharia uma comissão.
Contraponto
A reportagem tenta contraponto com a defesa de todos os citados.
Os advogados do prefeito de Rio Pardo, do procurador-geral do município e de Juarez Ramos dos Santos disseram que não tiveram o acesso aos autos permitidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Por isso, ainda não podem se manifestar.
"Estamos com clientes presos há mais de 24 horas sem ter conhecimento do que há nos autos", disseram Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti. Eles ainda informaram que entraram com mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça para reverter a situação.
Pela prisão de seu ex-presidente, Ricardo Riviero, o Coren informou:
"Em relação à situação envolvendo o ex-presidente Ricardo Riviero, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren-RS) ressalta que medidas administrativas e jurídicas foram tomadas em relação à gestão do dirigiente no Conselho (uma ação penal e uma ação de improbidade administrativa). Quanto ao caso em Rio Pardo, o Coren-RS vai avaliar a postura ética de Ricardo. Caso confirmadas as acusações, são muito graves e atentam a vida de pacientes e de profissionais da saúde."
Sobre a prisão de João Batista Mello da Silva, o ex-prefeito de Canoas Jairo Jorge afirmou:
João Batista Melo é policial militar aposentado e na Prefeitura de Canoas trabalhou na área da segurança. No período não teve nenhuma conduta ou atitude que colocasse em dúvida sua índole. Entendo que a Polícia Federal, instituição respeitada, irá apurar todos os fatos com correção e celeridade. Não tenho nenhuma relação profissional com as empresas envolvidas.