O alvo principal da ação da Polícia Federal que prendeu nesta quarta-feira (27) o prefeito de Rio Pardo, Rafael Barros (PSDB), está muito além dos limites daquele município. Os federais estão de olho em todos os convênios celebrados pela Associação Brasileira do Bem-Estar Social, Saúde e Inclusão (Abrassi), uma Organização Social (OS) especializada em receber recursos públicos para administrar serviços de saúde.
No caso de Rio Pardo, ela gerenciava o Hospital Regional do Vale. A Abrassi oferece esse tipo de serviço, hoje, a dezenas de prefeitos Brasil afora, desesperados em cortar custos de folhas de pagamento. É a terceirização da gestão.
Acontece que a Abrassi é apenas um nome de uma rede de OS ligadas a um mesmo grupo de pessoas, sob suspeita. Algumas delas estão entre os 15 presos nessa ação, cujo alvo mais notório é o prefeito rio-pardense, por ser político.
O Grupo de Investigação da RBS (GDI) checou a teia de relações que envolve a Abrassi com outras OS. Um exemplo: essa entidade contratou as empresas Lavtrim, Solusan e Celeste para prestar serviços junto ao Hospital Regional de Rio Pardo. Essas empresas têm como sócios pessoas ligadas à Associação São Bento, com sede em Porto Alegre. A São Bento, por sua vez, recebeu milhões de reais do Instituto de Educação Vida e Saúde (Isev), uma terceira OS. Já o superintendente da Abrassi, Fabiano Pereira Voltz – preso nesta quarta-feira (27) pela PF – prestou serviços à São Bento e trabalhou por 10 anos junto ao Isev.
Há mais ligações entre as três entidades especializadas em terceirização, conforme descobriu o GDI. O telefone da São Bento, em Porto Alegre, é o mesmo da Isev. O contador é o mesmo. Uma das diretoras do Isev namora o diretor da São Bento. E, por último, o Isev transferiu em 2018 a quantia de R$ 24 milhões para contas da Associação São Bento, conforme levantamento feito pela reportagem. Coincidências que despertaram a suspeita da PF. Tanto que dirigentes da São Bento e do Isev, responsáveis pelas remessas de dinheiro, estão entre os 15 presos na ação policial desta quarta-feira.
Somadas, a Isev, a São Bento e a Abrassi acumulam queixas de má prestação de serviços e suspeitas de desvios financeiros em pelo menos 21 municípios gaúchos e catarinenses.
CONTRAPONTO
O que dizem Fabiano Pereira Voltz, a Abrassi, a São Bento e o Isev:
GaúchaZH tentou contato, mas não conseguiu retorno. Dirigentes dessas entidades foram presos e os seus advogados ainda não falaram a respeito. Assim que retornarem o contato, sua versão será publicada.
O que diz o prefeito de Rio Pardo
A defesa de Rafael Reis Barros aguarda decisão do TRF-4 para ter acesso à investigação, e a partir dela realizar o contraditório.
Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti