O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) concedeu entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta quinta-feira (14). Criticado nesta semana pelos integrantes do programa pela falta de precisão nos dados que usa ao se manifestar sobre a pandemia do coronavírus, o parlamentar pediu espaço para contraponto. Médico, ele voltou a criticar a quarentena como forma de se evitar a propagação do coronavírus. Para o ex-ministro, essa é uma "noção equivocada", que criou um "efeito de manada" e foi extremamente prejudicial à economia. Confira trechos da entrevista. Leia, também, a coluna de Daniel Scola.
Experiência com epidemias
Ao longo da entrevista, o médico disse que teve de lidar com o surto de H1N1 no Rio Grande do Sul. Defendeu, também, que todas as epidemias têm prazo para começar, chegar ao ápice e terminar.
— As epidemias virais tem um padrão, e isso não está sendo falado na imprensa. Todas elas têm um prazo para começar, chegar ao ápice e terminar. Todas. Eu não estou falando isso de orelha de livro (...), eu estou falando isso de experiência vivida que poucas pessoas têm. Eu tive oportunidade de estar no front de várias epidemias no RS, eu aprendi muito com isso — disse. — Eu já vivi isso na ponta, eu sei como funciona uma epidemia — acrescentou.
— Uma epidemia, ela cresce pelo contágio, ela é um vírus novo, quando chegar a 50%, 60% da população, ele começa a desaparecer. Quando não tem remédio e não tem vacina, é assim que acontece — defendeu.
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Quarentena
O médico se opôs fortemente à noção de que a quarentena é um bom método para conter o avanço do coronavírus. Citou como exemplo o fato de que, de acordo com ele, grande parte das pessoas se infectam dentro de casa.
— Toda essa noção que foi construída em cima da quarentena é uma noção equivocada e é baseada em cima de uma previsão de Londres que (...) criou o efeito manada — disse.
— (...) Quarentena não funciona, não há nenhuma prova científica de que quarentena funciona, ainda mais num país como o Brasil, onde só rico faz quarentena (...). Não reduziu em lugar nenhum do mundo o número de mortos — afirmou. — Os 13 mil mortos que tem no Brasil foram em plena quarentena — defendeu.
Ao ser questionado sobre o fato de que o número de óbitos seria muito maior no Brasil caso não houvesse quarentena, Terra afirmou que não há prova científica.
— Quem é que te prova isso? Projeção não é prova científica, projeção qualquer um pode fazer, eu quero prova científica (...). Equívoco está em dizer para as pessoas que não podem sair na rua. É fazer uma quarentena brutal para as pessoas e não diminuir uma morte — reagiu.
Circulação do vírus
Terra defendeu que o que importa em uma pandemia é a circulação do vírus. Também afirmou que "veio pouco vírus para o Rio Grande do Sul".
– O dano que ela causa no pulmão é menor que o H1N1, mas ela atinge mais pessoas (...). A letalidade das pessoas pode ser menor que o H1N1, foi isso que eu disse. — Por que que não tem mais casos em Salvador do que em Fortaleza? Porque Fortaleza tem três voos internacionais para Milão. Para entender a pandemia, tem que entender a circulação do vírus (...). Veio pouco vírus para cá, essa é que é a lógica. Não é por causa da quarentena, é porque o vírus circulou pouco — disse.
Comparação entre RS e Santa Catarina
Ao ser questionado sobre a comparação entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o ex-ministro também afirmou que o número de casos em SC não aumentou por causa do afrouxamento das medidas de distanciamento social em 20 de abril.
— Santa Catarina desde o início tinha o dobro de mortes do Rio Grande do Sul — disse. – E Santa Catarina abriu e não aumentou isso, entendeu?
— Rio Grande do Sul e Santa Catarina podem ser comparados porque eles estão no sul e tiveram pouca circulação de vírus. Repito: Fortaleza, sozinha, tem o dobro de casos que Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná juntos. Lá tem uma grande epidemia. No sul todo, circulou pouco o vírus, (diferentemente de) como circulou no centro-oeste todo. Pouquíssimo (no Sul). O Brasil não é igual, ele é um país muito grande.
Governador de Nova York
O ex-ministro também disse que o prefeito de Nova York teria ficado impressionado ao descobrir que grande parte das pessoas que estão nos hospitais da cidade norte-americana foram infectadas dentro de casa. Sobre isso, Terra publicou em uma rede social um trecho de dois minutos de um vídeo que tem ao todo 45 minutos.
Questionado sobre o fato de ter usado uma frase que tira de contexto o discurso do prefeito, Terra reagiu:
— Eu peguei dois minutos quando ele dá os dados, só isso. Eu não manipulei nada, eu não editei o vídeo — disse. — Eu nunca disse que o governador mudou de opinião nem nada, eu estou pegando os dados, ele disse que estava chocado ao ver que 85% das pessoas que estão nos hospitais de Nova York são pessoas que estavam fechadas em casa — afirmou.