O deputado Osmar Terra (MDB-RS), um dos cotados ao cargo de Luiz Henrique Mandetta no comando da pasta da Saúde, defendeu nesta terça-feira (7) uma maior sintonia entre o ministro e o presidente Jair Bolsonaro e afirmou que a quarentena adotada por alguns governos vai "matar o Brasil".
Ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra é apontado como um dos nomes que poderiam assumir o Ministério da Saúde caso Bolsonaro decida pela demissão de Mandetta.
O deputado virou contraponto do ministro e referência de bolsonaristas por defender que apenas idosos e grupos de risco sejam isolados na pandemia.
Osmar Terra participou de uma videoconferência realizada pela Necton Investimentos na tarde desta terça. Ele qualificou Mandetta como "um bom ministro".
— Eu não acho ruim o ministro Mandetta, ele é um bom ministro. Só que acho que tem que ter sintonia com o presidente. O ministro é cargo de confiança do presidente. Os dois têm que acertar o discurso — afirmou.
O deputado fez fortes críticas à quarentena imposta por alguns gestores estaduais e municipais e defendeu o fim da medida, ideia também compartilhada por Bolsonaro.
— Senão, o número de doentes não diminui, a curva está subindo direto, quase que um foguete. Então a quebradeira da economia, a destruição da economia vai ser muito pior a curto e médio prazo. Isso é que o presidente está dizendo — disse.
Na avaliação de Osmar Terra, o Brasil já deve atingir o pico da epidemia em duas semanas.
— Quem vai matar o Brasil não é o coronavírus, é a quarentena, é o lockdown (isolamento total) de empresas que nunca foi tentado fazer em nenhuma epidemia e que, para nós, tem um resultado desastroso — afirmou.
O ex-ministro e Bolsonaro defendem o chamado isolamento vertical, no qual apenas idosos e grupos de risco devem ser isolados — o restante da população deveria voltar a trabalhar imediatamente.
Essa opinião é rejeitada não só pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por especialistas em pandemia, mas pela maioria dos líderes mundiais, inclusive o presidente americano, Donald Trump. Itália e Reino Unido, antes favoráveis a esse isolamento menos restrito, voltaram atrás diante do avanço dos casos da doença.
O Ministério da Saúde, que segue as recomendações da organização mundial, prega o distanciamento e o isolamento social como medidas mais seguras para conter o alastramento da covid-19.
A maioria dos governos estaduais segue as orientações da OMS, o que os colocou em rota de colisão com Bolsonaro.
Nesta terça, o deputado federal, que é médico, disse ainda que o número de casos de covid-19 no país está subestimado. Ele avalia que até 30 milhões de brasileiros podem estar contaminados com o coronavírus, mas defendeu que apenas o grupo de risco, os idosos, fique em isolamento.
— A vida tem que seguir normalmente para quem não é grupo de risco. Nessa curva que vai pegar 80% da população, 80% vão ter contato com o vírus. Tem que preservar aqueles 20% das pessoas de risco — afirmou.
Osmar Terra negou ainda que se trate de uma oposição entre defender a vida ou proteger a economia.
— Não sou empresário. Optei por ser médico, eu não sou empresário, eu não tenho empresa. Optei por fazer medicina para salvar vida — disse.
— A vida é mais importante do que os negócios. Só que a vida depende dos negócios para se manter — prosseguiu.
O deputado estimou ainda que a pandemia vai matar menos gente do que as gripes sazonais anuais e que o Sistema Único de Saúde (SUS) não teria dinheiro para cuidar dos doentes, porque a quarentena iria "arrebentar" a economia.
Segundo ele, não vai ter mais arrecadação para pagar benefícios do governo, como o Bolsa Família.
O ex-ministro também contestou as recomendações da OMS.
— Engraçado que a OMS só manda fazer isso (isolamento) aqui. Na China, está tudo funcionando. No Japão, está tudo funcionando. As escolas estão abertas na Coreia (do Sul). As escolas estão abertas em Taiwan. Que história é essa que a gente tem que seguir cegamente a orientação? — criticou.
Para ele, cada país tem que definir suas medidas de acordo com sua realidade sanitária.