Antes de mais nada, é preciso fazer um esclarecimento: o espaço dado hoje no Gaúcha Atualidade ao deputado Osmar Terra (MDB) foi a título de contraponto a uma crítica minha e das minhas colegas Rosane de Oliveira e Carolina Bahia. No programa de segunda-feira (11), contamos que muitas previsões feitas pelo parlamentar sobre o avanço da pandemia de coronavírus não haviam se confirmado. E mais: ao usar projeções que ficaram apenas na especulação, Terra desdenhava da gravidade. A assessoria do deputado pediu, então, espaço para um contraponto, uma entrevista em que ele pudesse manifestar suas ideias.
Vou repetir agora o que eu disse ao vivo para o deputado, ao começar a entrevista: hesitei em abrir o espaço sob o risco de destinar uma parte da nossa programação – com alcance de mais de 1 milhão de ouvintes – para debater dados que não se sustentam, negam a realidade e podem mais confundir do que esclarecer o ouvinte. Conheço o deputado há muitos anos, desde os tempos em que foi secretário de Saúde do RS e ajudou a implementar o exitoso programa Primeira Infância Melhor, umas das mais importantes iniciativas da saúde pública brasileira. Por acompanhar sua trajetória, me surpreende que ele negue a eficiência da mais importante medida que hoje evita a proliferação mais rápida da doença, que é o isolamento social. Enquanto não houver vacina, o distanciamento em maior ou menor grau ainda será necessário. Não sou eu, é o mundo científico que diz isso.
Argumentos colocados, o Atualidade decidiu, portanto, abrir espaço para uma entrevista de confronto de dados. É uma entrevista diferente, de contexto, com histórico e que cada informação precisa ser recontada e esclarecida. No rádio, ao vivo, corre-se o risco de o ouvinte não compreender bem, com excesso de dados. Daí um desafio adicional: deixar tudo muito claro, explicado para o público. Com base nas entrevistas, áudios de WhatsApp e tuítes em que Terra manifestou sua opinião, decidimos confrontar aquelas informações mais amplas, com maior interesse público.
Ouça a entrevista
O novo coronavírus produziria menos vítimas do que o H1N1, o vírus praticamente não circulou pelo interior do Estado, a pandemia estava despencando em abril, os Estados Unidos teriam menos de 40 mil mortos, a quarentena não tem efeito e 99% dos infectados são assintomáticos foram algumas delas. Não há comprovação científica para nenhuma dessas afirmações. Mais: muitas delas foram solapadas pela realidade.
Enfileiramos algumas dessas declarações recentes para que o deputado pudesse ouvir e responder como havia chegado naquelas conclusões. Mesmo diante das evidências, em alguns casos, Terra manteve a linha de repetir informações sem base cientifica, como a que apenas 1% de todos os infectados terão sintomas. Outro dado que acho importante ser levado em consideração é o caso da Suécia, cujo o governo não determinou isolamento social em um primeiro momento e tem hoje cerca de 3,6 mil mortos. Depois que os hospitais começaram a registrar mortes em profusão, o governo recuou e passou adotar medidas mais duras. Mas a Suécia tem sido usada como exemplo pelo deputado. Ora, a população da Suécia é parecida com a do Rio Grande do Sul, e aqui até hoje temos 120 mortes. Qual é o modelo mais eficiente para salvar vidas hoje?
Outra aspecto que me deixa um pouco perplexo é a incapacidade de olhar as mortes menos como números e mais como vidas que se foram, famílias destroçadas. Por isso, achei importante nominar municípios com 13 mil habitantes – o número de mortos hoje no Brasil – para se ter a dimensão da pandemia: Antônio Prado, Tenente Portela, Santo Cristo, Santo Augusto, Mostardas, Cacequi e Arroio dos Ratos. Cada um tem 13 mil. É como se uma cidade destas desaparecesse em dois meses
Muito tem se falado sobre o papel do jornalismo. No caos de desinformação que a pandemia provocou, o jornalismo é o campo de debate, discussão e esclarecimento da população que precisa estar bem informada. O jornalismo é o farol que ilumina a embarcação no mar revolto.
Tempo de entrevista
Ao final da entrevista, o deputado disse esperar "poder falar um pouquinho mais" da próxima vez. Buscamos os números:
- Entrevista completa: 30min25s
- Osmar Terra: 17min5s
- Daniel Scola: 11min45s
- Rosane de Oliveira: 54s
- Carolina Bahia: 46s
- Reprodução de falas antigas de Osmar Terra: 1min28s
*Nos momentos em que Scola e Terra falaram juntos, o tempo foi contabilizado para o apresentador.