Horas depois de afirmar em redes sociais que era fake a realização de um churrasco que ele próprio havia anunciado, o presidente Jair Bolsonaro gastou parte da tarde deste sábado (9) em um passeio de moto aquática no Lago Paranoá, um dos cartões postais de Brasília. A ação do presidente não foi informada publicamente. Ele se deslocou pela parte de trás do Palácio do Alvorada, que é banhado pelas águas do Paranoá.
A assessoria de imprensa da Presidência afirmou que por se tratar uma agenda privada, não tinha informações a passar. Fotos e vídeos do passeio de Bolsonaro foram publicadas pelo site Metrópoles.
O Brasil deve ultrapassar neste sábado a marca de 10 mil mortos pela covid-19, o que motivou decretação de luto da cúpula do Legislativo e do Judiciário. Câmara dos Deputados e Senado hastearam a bandeira a meio-mastro e declararam ficarem "proibidas quaisquer celebrações, comemorações ou festividades, no âmbito do Congresso Nacional, enquanto durar o luto".
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, divulgou nota afirmando que "os números, por si só, não dão conta do tamanho da tragédia" e que "cada vítima tinha um nome e projetos de vida que foram interrompidos, bem como familiares e amigos que agora sofrem com essa grande perda".
Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem se colocado contra medidas de distanciamento social, atitude que culminou na demissão de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e, mais recentemente, numa marcha com empresários ao Supremo Tribunal Federal.
Apesar de dizer lamentar as mortes, o presidente tem dado declarações que beiram o tom irônico, quando questionado sobreos óbitos provocados pela covid-19. Como a ocasião em que afirmou não ser coveiro ou a que disse:
— E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.
O churrasco que havia anunciado para esse sábado — em tom de ironia, ele chegou a dizer que já havia convidado mais de 3 mil pessoas — foi cancelado após a repercussão negativa.
Bolsonaro foi bastante criticado nas redes sociais pelo anúncio do evento festivo, o que, além de coincidir com a expressiva marca de mortos pelo coronavírus, contraria frontalmente as recomendações de distanciamento social feitas pelas autoridades sanitárias, incluindo o Ministério da Saúde e a Organização Munadial da Saúde (OMS).
Integrantes do primeiro escalão do governo do Distrito Federal afirmaram, em condição de anonimato, que o passeio de Bolsonaro contraria as normas de combate ao coronavírus decretadas pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).