Horas depois de criticar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e dizer que o presidente da Câmara quer "ferrar o governo" por entregar relatorias de projetos do Executivo à oposição, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o deputado e afirmou que ambos voltaram a "namorar".
Maia deixou a Câmara por volta de 15h30 em direção ao Palácio do Planalto, onde se reuniu com os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil).
O motivo oficial da ida do deputado ao Planalto foi atender a um convite feito havia semanas pelo ministro Ramos para que conhecesse o centro de operações do coronavírus. Em entrevista coletiva concedida ao voltar à Câmara, Maia afirmou que decidiu aceitar a proposta nesta quarta-feira.
Maia foi acompanhado do deputado Juscelino Filho (DEM), relator do projeto que altera o código de trânsito, do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e do deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR).
—É meu papel institucional, principalmente num momento de crise e de perdas de tantas vidas, o mais importante é sempre o diálogo, ver de que forma o governo federal vem atuando, conhecer o gabinete e toda a sua estrutura — justificou Maia.
Segundo ele, enquanto estava reunido com Ramos e Braga Netto, Bolsonaro apareceu e o convidou para um café.
No encontro, Juscelino Filho entregou a Bolsonaro o relatório do projeto de lei que institui o novo código de trânsito, ao que o presidente respondeu: "Agora vamos aprovar". O governo quer votar a medida até semana que vem. Maia sinalizou que pode colocar na pauta.
Na entrevista, Maia afirmou que o encontro durou meia hora, mas assessores presidenciais afirmam que ambos estiveram reunidos por, no máximo, 20 minutos. Um vídeo do encontro mostra o deputado oferecendo o cotovelo para cumprimentar o presidente, que responde com um abraço.
O presidente da Câmara disse que a conversa girou em torno do momento enfrentado pelo país e que ambos buscaram olhar o que têm de "convergência". Maia afirmou ainda que Bolsonaro pareceu se sensibilizar com a possibilidade de adiar o exame do Enem neste ano.
A reunião ocorreu no mesmo dia em que Bolsonaro decidiu editar uma medida provisória que blinda agentes públicos contra responsabilização por atos adotados durante a crise do coronavírus.
Também aconteceu poucas horas após o presidente afirmar que Maia tenta "ferrar o governo" por entregar a relatoria da MP 936, de redução de salários e jornada, para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
— Agora de acordo para quem o comando da Câmara dá a relatoria, ele já sinaliza que não quer resolver nada. Parece que quer afundar a economia para ferrar o governo e para talvez tirar um proveito político lá na frente — disse Bolsonaro.
Questionado sobre os ataques do presidente da República nesta manhã, Maia colocou panos quentes.
— Eu sei da minha responsabilidade e do meu compromisso com as pautas na Câmara dos Deputados. E todos podem ter certeza de que os projetos que vêm saindo do plenário da Câmara, não apenas pela minha vontade, mas pelo trabalho dos 512 deputados, são textos que são convergentes com aquilo que a sociedade espera da Câmara dos Deputados.
Sobre a MP que protege agentes públicos, o presidente da Câmara afirmou que a decisão de devolver a medida é atribuição do presidente do Congresso, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).
— Ela chegando na Câmara e tramitando, eu vou escolher um relator, e o plenário vai decidir se ela é constitucional ou inconstitucional ou se precisa ser modificada para que não pareça que algum agente público está sendo protegido — afirmou.
Durante a entrevista coletiva de Maia, Bolsonaro foi até a rampa do Planalto. Segundo assessores presidenciais, a intenção foi tirar o holofote da entrevista do deputado.
Não foi o primeiro ataque feito por Bolsonaro a Maia durante a pandemia. Em 16 de abril, à emissora CNN Brasil, o presidente acusou o deputado de conspirar para tirá-lo do Planalto e qualificou sua atuação no comando da Câmara como péssima.
Maia é responsável por decidir se prosperam ou não os mais de 30 pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Ele não tem prazo para tomar essas decisões.