O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta revelou na quarta-feira (20), em entrevista ao programa Edição das 16h, da GloboNews, que o governo federal planejava alterar a bula da cloroquina, por meio de um decreto a ser assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, para inclusão do tratamento contra a covid-19. Mandetta ainda afirmou que havia pressão para que o uso do medicamento fosse liberado — mesmo sem confirmações médicas em relação à eficácia contra o coronavírus.
— O presidente se assessorava de outros profissionais médicos. Eu me lembro de quando, no final de uma reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um futuro decreto presidencial. A ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando na bula indicação para covid-19 — disse o ex-ministro.
Na ocasião, estavam presentes, segundo Mandetta, ministros, integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU) e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. De acordo com o ex-ministro, Torres não concordou com a decisão e afirmou que tal discussão deveria ser realizada no Conselho Federal de Medicina.
— Não adianta fazer um debate de uma pessoa que seja especialista na área que for com um presidente da República que não é médico. A disparidade de armas, já que a frase está tão em voga, é muito difícil — salientou Mandetta.
Mandetta voltou a defender que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina pode aumentar o risco de arritmia cardíaca, além de piorar a situação de enfrentamento ao coronavírus. Ele salientou que faltam estudos sobre o uso do medicamento e que, em um dos estudos no Brasil a respeito da cloroquina, 33% dos pacientes em hospital tiveram que suspender o uso em razão de arritmia que poderia levar à parada cardíaca.
Nesta quarta-feira (20), após determinação do presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde divulgou um documento com orientações que ampliam a possibilidade de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com sintomas leves da covid-19. Em princípio, as drogas são indicadas, respectivamente, para o tratamento da malária e de doenças reumatológicas.
Pela manhã, às 10h47min, GaúchaZH procurou a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto para repercutir a fala do ex-ministro Mandetta na tarde anterior. Às 11h06min, houve retorno de que a demanda havia sido recebida. Até o momento, porém, ainda não há uma resposta oficial. Assim que ela chegar, será acrescentada aqui.