Entre apoiadores do governo, as ações do presidente Jair Bolsonaro em relação às armas de fogo são alvo de aprovação — e comprovam que o chefe de Estado vem cumprindo promessas de campanha.
De modo geral, a revisão das regras conta com o aval de donos de escolas e de clubes de tiro e dos chamados CACs (sigla que define caçadores, colecionadores e praticantes de tiro esportivo), que tiveram atendidas antigas reivindicações. O mesmo vale para entidades pró-armas.
Para Dempsey Magaldi, proprietário da Escola de Tiro Magaldi, em atividade há 42 anos em Porto Alegre, Bolsonaro tem sido coerente com o que sempre disse. Consultor em segurança com larga experiência no ramo de armamentos, Magaldi só discorda do presidente quando ele defende armar a população contra líderes autoritários — segundo o consultor, as pessoas querem ter armas para se proteger de criminosos, não de governos, e, para isso, devem se submeter a testes de aptidão e cumprir os pré-requisitos.
Quanto à revogação das portarias do Exército, Magaldi sustenta que o excesso de exigências inviabilizaria a abertura do mercado brasileiro à indústria estrangeira de armas, outra bandeira assumida pelo presidente, com o aval de escolas e CACs. Além de dificultar esse movimento, as regras anuladas não impediriam, na avaliação dele, o acesso de criminosos a equipamentos do tipo. Para o consultor, a maioria é fruto de contrabando.
— Bolsonaro está cumprindo o que prometeu. Flexibilizou o acesso, liberou calibres potentes que antes só chegavam aos bandidos e abriu o país à importação de armas, o que sempre foi um desejo da sociedade. O problema é que os regramentos do Exército tornariam a abertura inviável. O preço dos produtos explodiria — afirma Magaldi.
Nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, confirmou a preocupação com as importações. "Atiradores e CACs sempre apoiaram Bolsonaro para que tenhamos pela primeira vez um presidente não desarmamentista”, escreveu o parlamentar. “É inadmissível que o Colog faça portarias restringindo a importação. A quem isso interessa? Certamente não ao presidente”, enfatizou Eduardo, avisando que “mais medidas virão”.
Para Magaldi, isso não significa ser contra o controle do Estado:
— As escolas de tiro são rigorosas e rigorosamente fiscalizadas, tanto quanto atiradores e esportistas. E, pelo que disse o presidente, as portarias revogadas serão aprimoradas. Além disso, discordamos da tese de que armas legais e crimes andam juntos. Em 2019, a Polícia Federal registrou aumento de 46% nas vendas em lojas no mercado civil, e a violência urbana decresceu na casa de 40%.
Instituições que reivindicam o direito do cidadão de se armar, tanto para se defender quanto para treinar, têm posição semelhante. Para Diego Gomes Ferreira, membro do movimento Armas pela Vida, é equivocado presumir que maior acesso a armas e projéteis resultará automaticamente em aumento de crimes.
— A lógica dos críticos é de que as pessoas vão traficar munição ou querem armas para brigar no trânsito. Mas elas podem querer uma arma apenas por segurança ou para praticar tiro. Na verdade, há uma falha em presumir que todos sejam predispostos a cometer crimes — argumenta Ferreira.
À frente da ONG Brasil Sem Grades, Luiz Fernando Oderich diz que, pessoalmente, não é adepto das armas, mas diz que “respeita e entende” quem quer tê-las e agir para defender a família no lugar do vácuo deixado pelo Estado. Sem entrar em discussões políticas e eleitorais, o empresário lembra que, em referendo realizado em 2005, a maioria dos brasileiros votou a favor do comércio desses equipamentos. Para ele, as decisões de Bolsonaro vão nessa direção.
— Gostemos ou não, é isso — resume Oderich.