Ao ser questionado se a investigação da Polícia Federal sobre fake news que envolve seu filho Carlos pode ficar comprometida com a troca de comando no órgão, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda (27) que não há esquema de notícias falsas e sim liberdade de expressão.
— Meu Deus do céu. Isso é liberdade de expressão. Vocês deveriam ser os primeiros a ser contra a CPI das fake news. O tempo todo o objetivo da CPI é me desgastar — afirmou Bolsonaro.
A Folha de S. Paulo mostrou no sábado (25) que a investigação da Polícia Federal sobre fake news, conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tem indícios de envolvimento do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Os investigadores veem Carlos como um articulador do esquema de fake news e buscam agora provas que sustentam um eventual indiciamento do filho do presidente.
Esse inquérito teria sido o estopim por Bolsonaro para exonerar Maurício Valeixo da diretoria-geral da PF, o que levou à demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça na sexta-feira (24).
Para o lugar de Valeixo, Bolsonaro pretende nomear Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e amigo de Carlos Bolsonaro.
— Me acusam de fake news desde antes da campanha. Me apresentem um post que seja fake news, post de piada não vale, meme, não vale. Apresente um post que prejudicou o (candidato do PT derrotado nas eleições, Fernando) Haddad — disse Bolsonaro.
A argumentação de Bolsonaro, de que se trata de liberdade de expressão, é semelhante à de Carlos.
Neste domingo, ao comentar reportagem da Folha, o filho do presidente afirmou: "Não é necessário esquema de notícia para falar o que penso sobre drácula, amante, botafogo, nervosinho, aproveitadores, sabotadores ou sobre quem quer que seja".
Segundo Moro, o presidente agia para interferir politicamente na atuação da polícia e tinha interesse em inquéritos em trâmite no STF.
Bolsonaro voltou a negar interferência a acusação.
— Nenhum parente meu está sendo investigado pelo Supremo. O que tá de fake news é segredo de Justiça, ninguém sabe — disse. — Ele (Moro) teve carta branca na Justiça, eu não troquei nenhum superintendente, sugeri Rio e Pernambuco.
Questionado, Bolsonaro defendeu Ramagem. O presidente disse que o conheceu na campanha eleitoral de 2018 porque ele fazia parte da equipe de sua segurança como candidato.
— Ele ficou novembro e dezembro na minha casa, dormiu na casa vizinha, tomava café comigo. Aí tirou fotografia com todo mundo, foi num casamento de um filho meu. Não tem nada a ver a amizade dele com meu filho, meu filho conheceu ele depois — disse.
— E eu passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações, uma pessoa inteligente, bem informada, e demonstrou ser uma pessoa da minha confiança. A partir do momento que tenho chance de indicar alguém da PF, porque não (o) indicaria? — afirmou Bolsonaro.