O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (3) que o governo brasileiro não vai se manifestar sobre o ataque dos Estados Unidos que resultou na morte de um dos mais importantes militares de alta patente do Irã, o general Qassem Soleimani, no Iraque.
— Eu não tenho o poderio bélico que o americano tem para opinar neste momento. Se eu tivesse, opinaria — disse o presidente após visitar a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que está internada num hospital de Brasília após uma cirurgia estética.
O presidente disse também ter se reunido com o ministro-chefe da Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, para avaliar a situação internacional após a ação militar norte-americana.
— Conversei, aprofundamos a conversa e temos uma estratégia de como proceder no desenrolar dos fatos. A coisa que mais nos preocupa é uma possível alta do petróleo, que está em torno de 5% no momento. Conversei com o presidente da Petrobras também, a exemplo do que aconteceu na Arábia Saudita, o ataque de drones, em poucos dias voltou à normalidade, a gente espera agora também — disse.
Uma reunião foi convocada para a próxima segunda-feira (6), em Brasília, para avaliar os desdobramentos desse episódio na alta do preço dos combustíveis, com participação do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Pela manhã, Bolsonaro conversou com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e voltou a dizer que o governo não tem como interferir no preço do combustível, mas apelou para que os governadores atuem para segurar impostos, caso a alta seja muito expressiva.
— Eu converso com o almirante Bento (ministro de Minas e Energia), com o presidente da Petrobras e com o Paulo Guedes e nós temos uma linha de não interferir, mas acompanhar e buscar soluções. A gente apela aos governadores. Vamos supor que aumente 20% o preço do petróleo, vai aumentar em 20% o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), não dá para os governadores cederem nisso aí também? Porque todo mundo perde, quando você mexe em combustível, toda a nossa economia é afetada — afirmou.
Em nota, emitida na noite desta sexta, o Itamaraty manifestou "apoio à luta contra o flagelo do terrorismo" e reiterou que a "luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo".
"O Brasil está igualmente pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento. O terrorismo não pode ser considerado um problema restrito ao Oriente Médio e aos países desenvolvidos, e o Brasil não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul", diz o texto.
Por fim, o texto afirma que o país "condena igualmente os ataques à embaixada dos EUA em Bagdá, ocorridos nos últimos dias, e apela ao respeito da Convenção de Viena e à integridade dos agentes diplomáticos norte-americanos reconhecidos pelo governo do Iraque presentes naquele país.
"Operação quase suicida"
No final da tarde, Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista ao vivo, por telefone, ao programa Brasil Urgente, apresentado pelo jornalista José Luiz Datena, na TV Bandeirantes. Perguntado pelo apresentador se acreditava em uma possível retaliação do Irã contra os Estados Unidos, o presidente disse que poderia ser uma "operação quase suicida" do país muçulmano.
— Tem que ver o potencial bélico e militar do Irã, acho muito difícil, pode até haver, mas seria uma operação quase suicida — afirmou.
Na entrevista, Bolsonaro disse ainda não acreditar em uma guerra de grandes proporções e reforçou que, se o conflito se prolongar por muito tempo, o mundo inteiro sofrerá as consequências, por causa do petróleo.
— Se houver um conflito demorado, pela localização geográfica, pelo potencial do Irã, pelos problemas que podem acontecer, o mundo todo vai sofrer com a alta do petróleo. Se vier acontecer, nós vamos ver o que podemos fazer aqui.
Perguntado se o Itamaraty emitiria algum comunicado sobre o assunto, como outros países têm feito, Bolsonaro disse que, por enquanto, essa possibilidade "está descartada".
Entenda o caso
Comandante de alto escalão da Guarda Revolucionária do Irã, Qassem Soleimani foi morto na quinta-feira (2) nos arredores do aeroporto de Bagdá. Soleimani era o comandante da unidade de elite Força Quds, uma brigada de forças especiais responsável por operações militares extraterritoriais do Irã que faz parte da Guarda Revolucionária Islâmica.
O governo dos Estados Unidos justificou a ação afirmando que as Forças Armadas do país "agiram defensivamente de forma decisiva, matando Qassem Soleimani para proteger os indivíduos americanos no exterior".
O presidente Donald Trump ordenou a morte do comandante da força de elite iraniana Al-Quds, general Qassem Soleimani, anunciou o Pentágono em um comunicado. Na nota, o Pentágono disse que Soleimani estava "ativamente a desenvolver planos para atacar diplomatas e membros de serviço norte-americanos no Iraque e em toda a região".
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, respondeu que o país preparará uma "retaliação severa" pelo ataque.