A 17 dias da possível votação do pacote de reformas do governo do Estado, o governador Eduardo Leite enfrenta turbulências em sua base parlamentar. Após MDB e PSB reclamarem da falta de tempo para discutir o novo plano de carreira do magistério, nesta sexta-feira (29) o PP emitiu nota pedindo alterações no texto e o PSL anunciou sua saída do consórcio governista. Juntos, os quatro partidos somam 20 votos na Assembleia Legislativa.
As resistências reforçaram no Palácio Piratini o entendimento de que será necessário fazer concessões no conteúdo original da proposta. Nos bastidores, costura-se a ideia de elevar os valores nominais das faixas salariais nos níveis de carreira dos professores, como forma de angariar mais apoio. Uma emenda nesse sentido deve ser apresentada em plenário, no dia da votação, pelo líder do governo, Frederico Antunes (PP). Para evitar protagonismo individual e dividir os méritos da iniciativa, o texto deve ter autoria coletiva.
Para aprovar o projeto de lei que reformula a carreira do magistério, o Piratini precisa de maioria simples em plenário (metade mais um dos presentes). Embora os alertas emitidos pelos aliados preocupem, o governo mantém a confiança de que a numerosa base construída no pós-eleição, com 40 deputados, garante vitória na votação. Por enquanto, porém, os articuladores políticos de Leite ainda não contabilizam maioria de 28 votos entre os 55 parlamentares.
Segundo maior partido da base, com seis assentos, o PP marcou posição em uma reunião da bancada, na manhã desta sexta. Com a chancela do presidente da legenda, Celso Bernardi, os deputados decidiram apresentar "um conjunto de sugestões". Ao final do encontro, foi divulgada nota, assinada por cinco dos seis parlamentares - por representar o governo, Antunes declinou. Apesar da sintonia, causou celeuma a declaração do líder da bancada, Sergio Turra, para quem a proposta, "da forma que foi apresentada, não há condições de ser votada".
— A base tem tido uma reação fiel com o governo. E o governo tem correspondido. Mas pressão sempre existe. E dizer que não vota sem alteração é uma forma de pressão de quem também está sob pressão. Os deputados estão sendo pressionados, os partidos, o governo, todo mundo. O governador está ciente e já acenou com mudanças — minimizou Antunes.
Nos corredores da Assembleia, a postura do PP foi creditada à disputa que a legenda tem com o MDB no Interior do Estado. Como 2020 é ano de eleição municipal e eles são adversários em grande parte das cidades, o PP não poderia deixar o MDB confrontar o governo sozinho, sob risco de parecer leniente e perder votos de uma categoria numerosa e mobilizada como o magistério.
Se ao final do dia a situação no PP era considerada sob controle, a debandada do PSL foi um susto breve. Anunciado pelo presidente da legenda, o deputado federal Nereu Crispim, o rompimento foi exposto à imprensa sem consulta prévia aos próprios deputados estaduais, tampouco ao secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ruy Irigaray.
Em conversa com membros do governo, os três parlamentares - Tenente-coronel Zucco, Capitão Macedo e Vilmar Lourenço - disseram ignorar a posição do partido e afiançaram simpatia ao pacote de reformas. Uma nota oficial divulgada pelo chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, reforçou a confiança do governo nos deputados. "Estamos confiantes que os parlamentares irão continuar na base de sustentação da agenda proposta pelo governador", escreveu Vivian.