Após pedir desculpas públicas, o líder do PSL na Câmara dos Deputados, Eduardo Bolsonaro (SP), disse que foi "um pouco infeliz" ao ter mencionado a possibilidade da edição de um novo AI-5 e ressaltou que deu "munição" aos partidos de oposição. A afirmação ocorreu durante entrevista concedida ao Programa do Ratinho, do SBT, gravada na quinta (31) e exibida na noite de sexta-feira (1º).
— Talvez eu tenha sido um pouco infeliz ao ter citado o AI-5. Se eu pudesse voltar atrás, não teria falado no AI-5, porque acabei dando munição para a oposição ficar me metralhando — disse. —De maneira nenhuma eu cogitei naquele momento retornar ao AI-5. Estava falando do que ocorreu no Chile e que pode vir ao Brasil — ressaltou.
Eduardo voltou a dizer que há risco dos protestos populares no Chile ocorrerem também no Brasil e acrescentou que o governo federal tem de tomar medidas preventivas para evitar o mesmo cenário. Para o deputado, o governo brasileiro deve agir com "energia" e "abrir os olhos da população".
Desde o início das manifestações, em 18 de outubro, 20 pessoas morreram — entre elas, um menino de apenas quatro anos — e mais de mil ficaram feridas, de acordo com os números oficiais. O Ministério Público chileno investiga a ação de agentes do Estado.
A declaração de Eduardo à jornalista Leda Nagle sobre o AI-5, divulgada na quinta-feira (31), foi criticada tanto por políticos de esquerda quanto de direita. Ele também foi desautorizado por seu pai. O filho do presidente Jair Bolsonaro disse que, "se a esquerda radicalizar a esse ponto (como os protestos violentos no Chile), a gente vai precisar ter uma resposta".
— E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália — afirmou.
O presidente lamentou a afirmação e disse que quem defende um novo AI-5 só poder estar sonhando. A frase do presidente foi comemorada pelo setor moderado do Palácio do Planalto, que cobrava desde a manhã de quinta uma posição de Bolsonaro que colocasse uma espécie de freio em Eduardo. Tanto a cúpula militar quanto a equipe econômica avaliavam a necessidade de o presidente desautorizar o filho, arrefecendo o que chamam de uma escalada de radicalização de Eduardo e do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
A polêmica gerou revolta no Poder Legislativo e poderia prejudicar a pauta governista, sobretudo a votação da proposta de reforma administrativa. A expectativa é de que o projeto seja apresentado na próxima semana. Bolsonaro, então, recebeu a recomendação de fazer uma declaração pública para acalmar os ânimos no Congresso Nacional e evitar retaliações legislativas.
Depois da declaração do pai, Eduardo voltou atrás e se desculpou publicamente em entrevista ao programa Brasil Urgente, da Band, na quinta. Ao apresentador José Luiz Datena, Eduardo disse que houve uma "interpretação deturpada" de sua fala e que não existe qualquer possibilidade de retorno do AI-5.