O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou nesta segunda-feira (16) que nunca conspirou contra a antecessora, Dilma Rousseff (PT), para assumir a Presidência da República. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o emedebista declarou que "não era, digamos, adepto ao golpe".
— O pessoal dizia "O Temer é golpista" e que eu teria apoiado o golpe. Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe — disse Temer, que assumiu o cargo máximo do Executivo nacional em agosto de 2016, devido ao impeachment de Dilma.
— Recentemente, o jornal Folha (de S.Paulo) detectou um telefonema que o ex-presidente Lula me deu onde ele pleitava, e depois esteve comigo, para trazer o MDB para impedir o impeachment. E eu tentei. Mas a esta altura, a movimentação popular era tão grande e tão intensa que os partidos já estavam vocacionados para esta ideia. Mas veja que, até o último momento, e este telefonema revela, que eu não era, digamos, adepto ao golpe — afirmou.
Na entrevista, Temer também falou sobre a divulgação de uma conversa telefônica entre Dilma e o antecessor dela, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ganhou repercussão antes do impeachment. Para o emedebista, o diálogo não poderia ter sido divulgado.
— Para o paladar de quem preza a ordem jurídica, (o diálogo) não poderia ser divulgado. Se divulgado fosse, deveria ser divulgado por inteiro, porque daí você tem o conjunto probatório.
A conversa em questão foi gravada pela Polícia Federal em março de 2016. Nela, Dilma diz a Lula que enviaria um "termo de posse" para ser usado "em caso de necessidade" — o trecho foi interpretado como tentativa de garantir foro privilegiado a Lula com a nomeação para a Casa Civil, medida que acabou suspensa por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A hipótese foi negada pela então presidente Dilma após o diálogo ter sido tornado público — o que ocorreu porque o juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e da Segurança, retirou o sigilo das gravações.
O assunto voltou a ser comentado no último dia 8 de setembro. Reportagem da Folha de S.Paulo com o site The Intercept Brasil aponta que, conforme relatórios da PF, outros 22 telefonemas de Lula foram interceptados pelos policiais. Essas ligações revelariam que o próprio Lula tinha dúvidas sobre aceitar ou não o cargo na Casa Civil. A reportagem também cita conversas entre Lula e o então vice-presidente Temer.
— Ele estava preocupado com o impeachment, e foi a única conversa, porque depois ele esteve comigo, conversando sobre o impedimento (de Dilma Rousseff), pedindo que eu colaborasse. Que, afinal, a derrubada da ex-presidente não seria útil para o país.
O ex-presidente também falou sobre o sucessor, Jair Bolsonaro. Para Temer, o atual chefe do Executivo adota um estilo de governar "mais de confronto".
— Digamos que não é útil. Mas se a economia estiver caminhando bem, o empresariado investe — disse. — Por mais que se fale que podemos caminhar para o autoritarismo, acho difícil chegar nisso.