Primeiro partido a lançar pré-candidato à prefeitura de Porto Alegre, o PSL continua rachado no Estado e já vê a divisão interna ameaçar a campanha eleitoral do próximo ano. No último sábado, dois eventos distintos em locais diferentes da Capital explicitaram as posições antagônicas dentro da legenda.
Enquanto a direção da sigla aproveitava um evento de filiação realizado na Zona Norte para apresentar como postulante à prefeitura o secretário estadual de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Ruy Irigaray, a sete quilômetros dali um grupo dissidente pedia a destituição de todos os dirigentes. O embate é municiado por críticas de parte a parte, intrigas, dossiês, processos judiciais e boletins de ocorrência na Polícia Civil.
O encontro na Zona Norte reuniu cerca de 500 pessoas, embaladas pela presença de ritmistas e passistas de uma escola de samba. Coube ao presidente da Juventude do PSL, Alexandre Bobadra, lançar a pré-candidatura de Irigaray, empossado mês passado no comando do diretório municipal. Apadrinhado por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Irigaray conta com o aval do presidente nacional, Luciano Bivar (PSL-PE), para quem o Rio Grande do Sul é o Estado em que o partido é mais problemático.
Disposto a buscar aliados no campo da direita para montar uma coligação competitiva para 2020, Irigaray cita o respaldo das lideranças para desviar das polêmicas locais e pregar união:
- Esse respaldo da executiva nacional é importante para estabelecer um elo de confiança. Precisamos estar unidos para enfrentar a eleição do ano que vem.
No mesmo momento em que o secretário era celebrado como pré-candidato, cerca de cem dissidentes se reuniam no bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre. Liderados pela advogada Simone Sabin, o grupo redigiu um manifesto no qual se diz perseguido pelos deputados federais Nereu Crispim e Bibo Nunes, reclama ser alvo de desfiliações em massa e pede a substituição da executiva estadual por quadros técnicos. "A sanha dos dirigentes estaduais volta-se diretamente contra os interesses partidários, pois grandes são os indícios de que tem havido desfiliação indevida e ilegítima", diz trecho do documento enviado a Bivar em Brasília.
— Eles nos tiram do partido e filiam gente que estava no PDT, no PT. É um absurdo. Só em Canoas filiei 800 pessoas, tiraram quase todas. Não conseguem nem organizar o partido, como querem sair lançando candidato? Desse jeito não vão eleger ninguém, porque a base popular está se desmanchando — reclama Simone.
Adversária de Crispim, contra quem registrou um boletim de ocorrência por ameaça na segunda-feira, a advogada pretende concorrer à prefeitura de Canoas em 2020. Já o deputado está disposto a lançar na cidade a candidatura de sua esposa, Carolina Lompa, presidente do PSL Mulher. Para Crispim, Simone quer apenas tumultuar o partido.
— Nem conheço essa senhora, nem filiada ela é. Em todos os partidos existem divergências, mas o que esse pessoal quer é uma boquinha e não compactuamos com isso — revida.
A rixa é monitorada de perto pelos sete parlamentares do PSL no Estado, embora poucos queiram se expor. No evento de Simone, nenhum compareceu. Irigaray contou com a presença de Crispim e do deputado estadual Capitão Macedo. Mais votado do partido, com 166 mil votos, Luciano Zucco não foi ao evento, mas se esquiva ao ser questionado se apoia o grupo que comanda a legenda no Estado. "O deputado estadual está preocupado em trabalhar pela consolidação e organização do partido. (...) As discordâncias fazem parte da maturidade política", alegou em nota oficial.
Embora negue, Zucco ambicionava disputar a prefeitura em 2020, mas perdeu apoio após se desentender com Bibo Nunes em maio. À época, Bibo contava com a simpatia da direção nacional e conseguiu obrigar Zucco a renunciar à presidência estadual do PSL, cargo que acabou nas mãos de Crispim. Agora isolado, o próprio Bibo caiu em desgraça junto a Bivar: foi destituído da vice-liderança do partido na Câmara e também perdeu assento nas comissões temáticas. Em disputa, além do capital político do partido que elegeu o presidente da República e uma das maiores bancadas federais, está a fatia das verbas públicas à disposição do PSL em 2020: nada menos do R$ 480 milhões dos fundos partidário e eleitoral.