Uma ação criminosa coletiva e organizada para acessar o conteúdo dos telefones celulares de algumas das mais estratégicas autoridades do Ministério Público Federal (MPF). É dessa forma que a Procuradoria-Geral da República (PGR) trata a invasão hacker que acabou resultando na divulgação de conversas mantidas entre o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol e o então juiz Sergio Moro. Atualmente, há pelo menos quatro investigações apurando a clonagem dos aparelhos. A Polícia Federal mantém procedimentos em Brasília, Curitiba, São Paulo e no Rio de Janeiro.
O primeiro alvo dos invasores foi o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Em 24 de abril, ele revelou no Twitter que um hacker havia tentado acessar não só o celular mas também sua contas bancárias e dos aplicativos da Apple. O autor da ação se passou pelo ex-chefe do MPF e mandou mensagens para antigos colegas da instituição.
No dia 5 de junho, houve nova tentativa, desta vez às 5h50min da manhã. Além de chamadas de números que Janot desconhecia, o invasor enviou mensagens de texto com códigos de acesso para redes sociais e aplicativos, todos ignorados. Houve mais cinco chamadas, todas infrutíferas.
Poucos dias depois, outros procuradores que atuaram junto ele no comando da PGR também foram atacados. No dia 11 de maio, um sábado véspera do Dia das Mães, os hackers conseguiram acessar o celular do jornalista Gabriel Mascarenhas, do jornal O Globo. Repetindo a estratégia, eles se passaram pelo repórter e enviaram mensagens ao procurador Danilo Pinheiro Dias, dizendo que precisavam falar com Dallagnol.
Na conversa, o próprio invasor dizia ter conteúdo que poderia colocar em risco toda a operação Lava-Jato. Danilo ligou para o jornalista questionando a mensagem e foi avisado que se tratava de alguma clonagem. No mesmo final de semana, integrantes da força-tarefa em Curitiba relatavam ter sofrido ataques semelhantes. Em alguns casos, eles recebiam ligações do próprio número.
No primeiro dia útil seguinte, segunda-feira, 13 de maio, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, mandou investigar os assaltos cibernéticos a membros do MPF no Rio de Janeiro e no Paraná. Raquel também acionou as operadoras de telefonia e pediu providências à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STIC). O objetivo era averiguar eventuais falhas de segurança nos celulares usados pelos procuradores e nos aplicativos de mensagem como WhatsApp e Telegram. De acordo com a PGR, até o momento "não há resultado conclusivo" sobre as investigações.