Michel Temer, de 78 anos, é o segundo ex-presidente da República a ser preso após investigação na esfera penal. Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro, após ser condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.
Na história republicana, só tiveram a cadeia como destino mandatários ou ex-mandatários suspeitos ou acusados de crimes políticos, em meio a crises e golpes.
O próprio Lula tem outra prisão em seu histórico, em 1980, mas que não conta no critério porque:
- embora popular líder sindical, ele ainda estava a muitos anos de ter em sua biografia a faixa presidencial; e
- o encarceramento ocorreu sob a ditadura militar, quando inexistia no país Estado de direito -o jovem sindicalista foi tirado de casa sob acusação de "incitação à desordem", chegou a ser condenado na Justiça Militar e o processo acabou anulado.
Um juízo político, portanto.
O caso que mais se aproxima do caso da situação de Temer e Lula ocorreu há quase 97 anos. Em julho de 1922, foi preso o marechal Hermes da Fonseca, que chefiara o Poder Executivo federal de 1910 a 1914 — cerca de sete anos e meio após deixar a cadeira presidencial, intervalo semelhante ao do petista.
Então presidente do Clube Militar, Hermes teve a prisão decretada pelo próprio presidente Epitácio Pessoa, após contestar a repressão do governo contra grupos insatisfeitos com a eleição de Artur Bernardes para o Palácio do Catete.
Após sofrer um infarto, o ex-presidente foi liberado, voltando a ser preso dias depois, com a revolta no Forte de Copacabana. Com o tenentismo em seu pé, Epitácio decretou estado de sítio.
Hermes seria libertado após um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) em seu favor em janeiro de 1923. Doente, morreria em setembro daquele ano.
A defesa argumentava que o ex-presidente sofria constrangimento ilegal, pois estava preso sem culpa formada e com o processo irregularmente na esfera militar quando o caso era de crime político, sujeito à jurisdição civil.
Mas se também teve processo judicial, o caso Hermes foi essencialmente político, além de reunir as excentricidades de um Brasil de instituições consideravelmente mais fracas que as de hoje. Eram os tempos da república oligárquica do café com leite, que vetava o voto secreto, dos numerosos analfabetos e até dos "mendigos", conforme grafava a Constituição da época.
Outras prisões
As demais prisões de mandatários brasileiros ocorreram sob ainda mais arbítrio.
Com direitos políticos cassados pela ditadura iniciada em 1964, Juscelino Kubitschek foi aprisionado em um quartel após a edição do AI-5, em 1968, que endureceu o regime. Em seguida, passou um mês em prisão domiciliar.
Jânio Quadros foi outro detido naquele ano, ainda antes do AI-5, por ter feito críticas ao regime militar. Por ordem do governo, ficou temporariamente "confinado" a Corumbá, que hoje integra Mato Grosso do Sul. Ele era natural de Campo Grande.
A Era Vargas coleciona dois ex-presidentes presos. A primeira vítima foi Washington Luís, que, deposto pelo levante liderado por Getúlio Vargas em 1930, foi preso e partiu para o exílio.
Artur Bernardes perdeu a liberdades duas vezes. Primeiro, em 1932, ao apoiar a Revolução Constitucionalista. Depois, em 1939, após Getúlio decretar o Estado Novo.
Já Café Filho (1954-1955) chegou a ficar mantido incomunicável em seu apartamento, guardado pelo Exército, antes de ter seu impedimento votado pelo Congresso durante a crise que precedeu a posse de JK.