A ascensão de uma nova direita relegou a papel secundário partidos tradicionais que dominaram a política brasileira nas últimas décadas. Desgastados por uma sucessão de escândalos e a prisão de vários expoentes, PT, MDB e PSDB viram suas bancadas minguarem e não ditam mais o ritmo dos trabalhos na Câmara e no Senado. A perda de protagonismo ficou evidente na composição da mesa diretora das duas Casas.
Desde a redemocratização, pela primeira vez os três partidos não têm assento no comando da Câmara. No Senado, os tucanos ficaram com uma vice-presidência e o MDB, uma secretaria. Ao PT restou a terceira suplência na mesa.
— MDB, PSDB e PT perderam o timing político. Foram os grandes derrotados nas urnas e não entenderam o recado, errando de novo na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. Não têm mais nem mesmo o respeito de muitos dos deputados e senadores que estão chegando — afirma um veterano parlamentar.
O desprestígio é reflexo do desempenho eleitoral. Embora sejam as agremiações com o maior número de filiados, esse contingente não se mostrou fiel. A bancada do MDB foi praticamente reduzida à metade, caindo de 66 deputados para 34. O PSDB, que elegeu 54 em 2014, fez 29 agora. O PT se manteve como maior partido da Câmara, mas também diminuiu de tamanho, de 69 para 56 cadeiras.
— O PT ainda é a maior força de oposição, mas enfrenta desgaste com tradicionais aliados, como PCdoB e PSB. Há uma crise de confiança. Os tucanos estão perdidos, sem uma liderança natural. E o MDB virou partido médio, mas logo deve aderir ao governo. Bolsonaro já estendeu a mão, mas daí a oferecer ministério é outra história — comenta o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília.
Por décadas considerado essencial para a manutenção da chamada governabilidade, o MDB tem o deputado gaúcho Osmar Terra no Ministério da Cidadania, mas por indicação de bancadas temáticas, como a da assistência social.
Na última semana, o suplente de Terra, Darcísio Perondi, foi nomeado vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, em outra escolha sem participação do partido. Com esses movimentos, mesmo que sem ser formalmente convidada, a legenda vai se aproximando do Planalto e, aos poucos, recuperando influência.
— O MDB ainda é importante, mas precisa reconhecer que errou e renovar o discurso — diz Antônio Queiroz, analista político do Diap.
Com estrutura enraizada em todos os Estados e gestão profissional da burocracia partidária, MDB e PT são as siglas com maior chance de recuperar mais cedo o protagonismo. A despeito do recente fracasso eleitoral, também possuem militância organizada e base política consistente, formada por milhares de vereadores, prefeitos e deputados estaduais.
O PSDB, aponta Fleischer, não desfruta de suporte semelhante e ainda abriga uma disputa interna pelo comando da sigla, entre o atual governador de São Paulo, João Doria, e seu antecessor, Geraldo Alckmin.
— O risco que o DEM corria, anos atrás, de caminhar para a extinção, hoje é do PSDB —salienta.