Com militares despachando nos principais gabinetes do Palácio do Planalto, o único ministro civil do prédio conta com o prestígio conquistado junto ao presidente Jair Bolsonaro para ganhar autonomia na interlocução com o Congresso. À frente da Casa Civil, Onyx Lorenzoni terá a responsabilidade de negociar a aprovação da reforma da Previdência, mas esbarra na resistência dos generais em ceder a barganhas políticas.
Onyx ocupa o principal ministério do governo, responsável pela formalização da maioria dos atos da administração federal. Seu gabinete, no quarto andar do palácio, é o único com acesso direto à sala de Bolsonaro, um pavimento abaixo. A primazia garante interlocução direta com o presidente, várias vezes ao dia, mas não significa liberdade total de ação.
No mesmo andar de Onyx ficam os outros três ministros da casa, todos generais e com influência direta sobre a forma de Bolsonaro conduzir o governo. Até a última segunda-feira, havia um equilíbrio de forças. Onyx e Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) representavam a ala civil do Planalto. Com divisas estreladas, Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Santos Cruz (Secretaria de Governo) lideravam a ala militar.
A substituição de Bebianno pelo general Floriano Peixoto não só ampliou a presença verde-oliva no Planalto como acabou isolando Onyx como único representante da classe política na hora da tomada de decisões. Para fortalecer sua posição e convencer o presidente a melhorar o diálogo com os parlamentares, ele tem buscado apoio nos colegas com experiência no parlamento. Ministro da Cidadania e com bom trânsito em várias bancadas de centro-direita, Osmar Terra passou a conversar com Onyx todos os dias e promete colaborar.
Deputado federal eleito para o quinto mandato, o chefe da Casa Civil sabe como opera o Congresso. Nos salões acarpetados da Câmara e do Senado, é unanimidade a avaliação de que a reforma não passa sem contrapartidas aos parlamentares, seja na liberação de verbas para suas bases eleitorais, seja com nomeações para cargos no segundo e terceiro escalões.
Para piorar o ambiente, Onyx enfrenta restrições nas duas casas por conta de sua atuação na relatoria das 10 medidas contra a corrupção, pacote de projetos apresentado pela força-tarefa da Lava-Jato em 2016. À época, líderes partidários contavam com o apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para anistiar o crime de caixa 2, mas a manobra foi denunciada por Onyx. Os deputados se revoltaram, alegando que ele havia se comprometido com a medida.
Onyx sempre negou o acordo e, desde então, mantém desavença pública com Maia. Agora, os dois precisam trabalhar juntos pela aprovação da reforma da Previdência. De preferência, com o aval dos militares.