Atônitos com a inabilidade política demonstrada pelo presidente Jair Bolsonaro na condução da primeira crise palaciana, congressistas, ministros e militares passaram a quinta-feira (14) arquitetando operação de redução de danos diante da eventual demissão do secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Enquanto generais influentes tentavam convencer Bolsonaro a manter o auxiliar, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a dizer que o tumulto ameaçava a aprovação da reforma da Previdência.
A situação de Bebianno se tornou crítica na noite de quarta-feira, após Bolsonaro não descartar a demissão do ministro em entrevista à TV Record. Mais cedo, em ação endossada pelo pai, Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente e vereador no Rio, havia chamado Bebianno de mentiroso e divulgado áudio em que o presidente se recusava a conversar com o auxiliar.
Incomodado com a exposição pública, Bebianno disse que não iria pedir demissão e que não havia cometido irregularidade. Cancelou todas as agendas e passou boa parte do dia recluso em seu gabinete, aguardando um chamado presidencial, que não ocorreu.
Em repouso no Palácio da Alvorada, Bolsonaro recebeu os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Santos Cruz (Secretaria de Governo). Eles alertaram o presidente sobre os riscos de expor publicamente um auxiliar como Bebianno, que presidiu o PSL durante a eleição e detém informações restritas da campanha eleitoral. Os generais foram além. Ciosos do sigilo das comunicações presidenciais, consideraram inadmissível a divulgação, em rede social, de uma conversa entre o chefe do Executivo e um integrante do primeiro escalão. Também avisaram que a crise atrapalhava a relação com a base no Congresso, justo no dia em que seria definido o formato da reforma da Previdência.
Mais cedo, Maia já havia telefonado para o ministro da Economia, Paulo Guedes. Principal fiador da reforma no Legislativo, o presidente da Câmara disse que a demissão de Bebianno passaria aos deputados a impressão de que Bolsonaro não poupa aliados, nem honra compromissos.
Embora parlamentares admitam a gravidade dos indícios de desvio de recursos do fundo eleitoral para candidaturas laranja, o que assustou Brasília foi a forma como o filho do presidente atropelou a liturgia política para execrar em público, e com o aval do pai, um ministro. Temem que, caso não haja mudança de postura, nenhum aliado esteja livre de sofrer ataques semelhantes caso caia em desgraça com a família de Bolsonaro.
Embora comande uma pasta esvaziada, Bebianno é considerado eficaz interlocutor político. Dizendo-se magoado com a situação, ele espera apoio de boa parte da bancada do PSL e do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Onyx precisa de Bebianno no Planalto para equilibrar as forças com os militares. Dos quatro ministros com assento no palácio, Heleno e Santos Cruz mantêm muita influência sobre Bolsonaro. Numa eventual exoneração de Bebianno, seu substituto natural será um dos generais que trabalham na Secretaria-Geral, Floriano Peixoto ou Maynard Santa Rosa. Onyx também conta com o pragmatismo político de Bebianno para ajudar na relação com o Congresso, em especial com Maia, de quem o chefe da Casa Civil é desafeto.
— Há uma tensão dentro do governo. Onyx está sem poder para distribuir cargos aos aliados, não está conseguindo sobreviver com a linha dura dos militares que controlam tudo que é conversado com o parlamento — comenta um interlocutor dos ministros palacianos.
Até a posse, Bebianno era considerado um dos homens fortes do futuro governo. A atuação durante a campanha deu ao advogado de 54 anos uma rara proximidade com Bolsonaro, causando inveja nos filhos e em outros dirigentes. Agora, perdeu de vez o prestígio com quem realmente manda no palácio. Em entrevista à revista Cruzoé, o ministro declarou:
— Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo.