Na alça de mira do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, busca apoio no PSL e no ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na tentativa de evitar se tornar a primeira baixa da Esplanada no novo governo. Hostilizado em público pelo presidente e pelo filho Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), Bebianno está sendo responsabilizado pela crise com supostas candidaturas de laranjas do partido, investigada pela Polícia Federal.
A situação de Bebianno se tornou crítica na noite desta quarta-feira (13), após Bolsonaro não descartar a demissão do ministro em entrevista à TV Record. Mais cedo, em ação avalizada pelo pai, Carlos havia chamado Bebianno de mentiroso e divulgado áudio em que o presidente se recusava a conversar com o auxiliar.
Incomodado com a execração, Bebianno disse que não iria pedir demissão e que não havia cometido nenhuma irregularidade. Nesta quinta-feira (14), ele tinha na agenda uma reunião interministerial na Casa Civil, mas não compareceu — enviou representante e deixou o Palácio do Planalto. Embora conte com apoio de boa parcela da bancada do PSL, a proteção do chefe da Casa Civil é a última esperança de Bebianno o cargo. Nesta quarta-feira (13), Onyx tentou amenizar a crise e saiu em defesa do colega.
— O ministro Gustavo Bebianno é uma pessoa superdedicada ao projeto, é um homem sério, responsável, correto. Acho que essas coisas são naturais em um processo que está se iniciando — afirmou.
Nos bastidores, comenta-se que Onyx defende Bebianno porque precisa dele no Planalto para equilibrar as forças com os militares dentro do governo. Dos quatro ministros com assento no palácio, dois mantêm muita influência sobre Bolsonaro, os generais Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Santos Cruz (Secretaria de Governo). Ou outros dois são Onyx e Bebianno.
Caso seja demitido, seu substituto natural será um dos generais que trabalham na Secretaria-Geral, Floriano Peixoto ou Maynard Santa Rosa. A ascensão de outro militar deixaria Onyx em desvantagem na correlação de forças. Além disso, Onyx conta com o pragmatismo político de Bebianno para ajudar na interlocução com o Congresso.
— Há uma tensão dentro do governo. Onyx está sem poder para distribuir cargos aos aliados, não está conseguindo sobreviver com a linha dura dos militares que controlam tudo que é conversado com o Parlamento. Tudo passa pelo crivo final do general Heleno e do Santos Cruz. Então, Onyx não está conseguindo ter o Congresso na mão como prometeu a Bolsonaro — comenta um interlocutor dos ministros palacianos.
Até a posse, Bebianno era considerado um dos homens fortes do futuro governo. Presidente interino do PSL durante a eleição, chefiou a campanha de Bolsonaro em todo o país. A função deu ao advogado de 54 anos uma rara proximidade com o candidato, causando inveja nos filhos e em outros dirigentes do partido. Na função, gerenciava a milionária verba do fundo partidário, controlava a agenda de Bolsonaro, fazia a interlocução com a imprensa e discutia as ações jurídicas e de comunicação.
Tamanha responsabilidade faz dele um detentor de muitos segredos. Na transição, chegou a ser cotado para o Ministério da Justiça antes de Bolsonaro convidar o juiz Sergio Moro para o posto. Acabou nomeado para a Secretaria-Geral da Presidência, cargo com atribuição sobre áreas estratégicas.
Visto com desconfiança pelos militares e pelos filhos do presidente, acabou tendo o ministério esvaziado ao perder o comando do programa de privatizações e a Secretaria de Comunicação, órgão com poder sobre as emissoras estatais e a verba de publicidade do governo. Agora, perdeu de vez o prestígio com quem realmente manda no palácio.