O oficial de operações José Jacaúna de Souza, coronel do Exército brasileiro em Pacaraima, Roraima, afirmou que os militares venezuelanos invadiram a área que tecnicamente pertence ao Brasil no momento em que entraram em confronto com manifestantes na fronteira. O oficial considerou uma "agressão" e defendeu que o governo brasileiro tome "medidas diplomáticas".
— Foi um episódio lamentável, ninguém esperava que isso acontecesse em nosso território. Recebemos uma chuva de gás lacrimogêneo. Esperamos que isso não fique assim — declarou Jacaúna.
O coronel ainda classificou o episódio como uma "rusga", e ponderou que cabe apenas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, avaliar se foi um incidente diplomático.
Jacauna reforçou o discurso de que o Brasil não tem planos de se envolver em conflito armado com a Venezuela. Sobre a ação no lado brasileiro, garantiu que o efetivo é suficiente para garantir a ordem.
O comandante do Exército brasileiro, Edson Pujol, não considera que houve invasão em território brasileiro. Para ele, a escaramuça aconteceu em uma "zona neutra" da fronteira com o Brasil.
Coquetéis molotov e tiros
Por volta de 17h30min, um grupo formado por jovens mascarados começou a atirar coquetéis molotov e pedras contra o cordão de militares. Após os primeiros arremessos, uma estrutura de alvenaria utilizada pelos militares pegou fogo. Áreas de vegetação também foram incendiadas, provocando grandes colunas de fumaça.
Os militares reagiram atirando bombas de gás e efeito moral. Sem conseguir que os manifestantes recuassem, passaram a dar tiros de arma de fogo e com balas de borracha.
Ao menos um venezuelano ficou ferido. Ele foi deixado na base militar brasileira.
O deputado Luís Silva, do Movimento da Unidade Democrática (MUD), partido de Juan Guaidó, afirmou que quatro pessoas morreram em confrontos com as forças militares venezuelanas. Três dessas mortes foram confirmadas pela médica socorrista Carla Cevita, que trabalha na região.
Ela não soube passar detalhes sobre as vítimas, e acrescentou que ao menos 23 pessoas ficaram feridas durante os enfrentamentos entre parte da população com o exército de Nicolás Maduro. Nove seriam transferidos ao Brasil.
Embora a fronteira esteja fechada, a passagem de veículos de socorro é permitida.
Nos primeiros deslocamentos, cinco cidadãos do país vizinho foram levados ao hospital, todos em estado grave. Com poucos funcionários, a instituição solicitou ajuda de militares. Depois dos primeiros atendimentos, os venezuelanos devem ser levados à capital Boa Vista, que fica a 200 quilômetros de distância.
Outro responsável por socorrer as vítimas, o diretor de Proteção Civil de Bolívar, Alberto Brito, relatou que os enfrentamentos se intensificaram nos últimos dois dias em Santa Elena, a primeira cidade após a fronteira do Brasil.
— A situação é grave, muitas pessoas com ferimentos de tiros, de pedradas. Os conflitos com o Exército ocorrem em todas as partes — relatou o socorrista, cuja atividade é independente do governo da Venezuela.