Os confrontos em Santa Elena, na fronteira da Venezuela com o Brasil, deixaram três pessoas mortas neste sábado (23), segundo informou Carla Cevita, médica venezuelana que trabalha como socorrista na região. Ela não soube passar detalhes sobre as vítimas, e acrescentou que ao menos 23 pessoas ficaram feridas durante os enfrentamentos entre parte da população com o exército de Nicolás Maduro. Nove seriam transferidos ao Brasil.
Carla foi uma das socorristas que chegou neste sábado ao Hospital Délio de Oliveira Tupinambá, em Pacaraima, Roraima, levando feridos venezuelanos. Embora a fronteira esteja fechada, a passagem de veículos de socorro é permitida.
Nos primeiros deslocamentos, cinco cidadãos do país vizinho foram levados ao hospital, todos em estado grave. Com poucos funcionários, a instituição solicitou ajuda de militares. Depois dos primeiros atendimentos, os venezuelanos devem ser levados à capital Boa Vista, que fica a 200 quilômetros de distância.
Outro responsável por socorrer as vítimas, o diretor de Proteção Civil de Bolívar, Alberto Brito, relatou que os enfrentamentos se intensificaram nos últimos dois dias em Santa Elena, a primeira cidade após a fronteira do Brasil.
- A situação é grave, muitas pessoas com ferimentos de tiros, de pedradas. Os conflitos com o Exército ocorrem em todas as partes – relatou o socorrista, cuja atividade é independente do governo da Venezuela.
Políticos e outros apoiadores do líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, relatam “massacres” em comunidades venezuelanas nos últimos dias. Responsável por acompanhar a tentativa de envio de ajuda humanitária pelo Brasil, Tomaz Silva disse nesta sexta que parlamentares que fazem oposição a Maduro estão noticiando os conflitos.
— A todo momento recebo mensagens relatando conflitos. A população está sofrendo com a repressão de Maduro, que insiste em não permitir a entrada de ajuda humanitária — relatou.
Silva foi destacado para acompanhar a situação de Pacaraima por María Teresa Belandria, representante no Brasil de Guaidó. Segundo ele, os conflitos se intensificaram porque a população está nas ruas do país pressionando Maduro pela liberação de medicamentos e alimentos enviados por países como Brasil, Colômbia e Estados Unidos.
Em Boa Vista, estão armazenadas cerca de 200 toneladas de alimentos enviados pelos governos brasileiro e norte-americano. As autoridades estão com dificuldade de conseguir levar o material à fronteira porque o transporte só pode ser feito por veículos e motoristas venezuelanos. Por ordem de Maduro, eles estão proibidos de atravessar a fronteira. Os dois caminhões de pequeno porte que levaram parte dos mantimentos para Pacaraima só chegaram a Boa Vista porque os motoristas utilizaram caminhos alternativos, em áreas de morros e vegetação.
— Viemos pelas trincheiras durante a madrugada. É uma situação de perigo, mas nós não podemos ficar esperando — disse um dos motoristas, que não quis se identificar por medo de represálias. Ainda segundo ele, moradores atearam fogo em diversos locais de Santa Elena, inclusive no aeroporto da cidade, que teria ficado destruído.
Na tarde deste sábado, os caminhões seguiam na zona neutra da fronteira, aguardando liberação para entrar na Venezuela.