O presidente Jair Bolsonaro (PSL) pretende adotar a estratégia de isolar o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, caso ele insista em permanecer no cargo em meio à crise das candidaturas laranjas do PSL reveladas pela Folha de S.Paulo. Bebianno comandou o partido durante todo o período eleitoral de 2018.
Aconselhado por aliados, Bolsonaro fez chegar a Bebianno seu desejo de que deixe o posto até segunda-feira (18), mas o ministro tem se articulado com advogados e integrantes do Legislativo e do Judiciário para conseguir uma sobrevida no governo federal.
Encurralado, Bebianno iniciou no final da manhã desta sexta-feira (15) uma reunião com dois outros ministros palacianos: Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). A reunião, fora da agenda das autoridades, foi marcada numa tentativa de esfriar a crise que tem Bebianno como principal personagem.
O chefe da Secretaria-Geral passou as últimas 48 horas tentando traçar uma estratégia de sobrevivência. Ele recorreu na noite de quarta (13) ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de nomes do meio advocatício e do Judiciário. Tanto Santos Cruz quanto Onyx já se reuniram com Bolsonaro, e Bebianno foi o único entre os palacianos a não ser recebido pelo presidente.
Maia entrou no circuito com a tentativa de levar ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a ideia de que a crise e a demissão do auxiliar do presidente poderiam prejudicar a aprovação da reforma da Previdência, que será apresentada na semana que vem ao Congresso e é a prioridade do governo.
As tentativas foram em vão. Apesar do esforço de Maia, que saiu em defesa pública do ministro, Guedes não fez nenhum gesto no sentido de tentar conter a demissão do ministro. O ministro está sem agenda oficial desde terça-feira (12) e passou a manhã desta sexta-feira (15) no hotel onde mora em Brasília, em reunião com aliados.
Bolsonaro não gostaria de demiti-lo, mas forçá-lo a sair do cargo. Bebianno, no entanto, resiste em tomar decisão enquanto não tiver um encontro pessoalmente com o presidente, o que não ocorreu desde que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, afirmou ser mentira declaração do ministro de que havia conversado com o presidente após revelação do esquema de candidaturas laranjas.
Caso o ministro mantenha a disposição de não pedir demissão, a estratégia de Bolsonaro, como definiu um assessor presidencial, é que ele seja mantido em uma espécie de "fritura em fogo baixo" até que se sinta desprestigiado o suficiente para deixar a função. Diante do desgaste, o entorno do presidente, sobretudo o grupo ligado a seus filhos, defende que se inicie um processo de esvaziamento do ministro, excluindo-o de reuniões, agendas, viagens e eventos.
Desde quarta-feira (13), quando recebeu alta médica e chegou à capital federal, Bolsonaro tem resistido a receber Bebianno no Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente. Nas palavras de um aliado de Bolsonaro, é uma forma de transformá-lo em uma espécie de "ministro de segunda classe", sem acesso direto ao presidente. Em conversas com aliados, Bebianno já disse que só deixará o posto após uma conversa com Bolsonaro, mas, até o momento, não há perspectiva para que isso ocorra.
A avaliação no Palácio do Planalto é a de que o presidente se colocou em situação delicada ao endossar Carlos Bolsonaro e também desmentir publicamente seu ministro. Sem o pedido de demissão, a única alternativa seria exonerá-lo, mas essa hipótese pode criar uma nova crise, desta vez com o Poder Legislativo. Segundo relatos, o presidente não esperava que, diante da crítica pública feita por seu filho, Bebianno fosse insistir tanto em seguir no posto.
Na manhã desta sexta-feira (15), o ministro se reuniu com assessores e aliados em um hotel próximo à residência oficial do presidente. Caso Bebianno deixe a pasta, o governo avalia duas possibilidades: ou entregá-la a um parlamentar do PSL, tentando reduzir o dano com o episódio, ou extingui-la, passando as atribuições para a Casa Civil ou Secretaria de Governo.