Um dos mais belos cômodos do Palácio Piratini, o Salão Negrinho do Pastoreio está organizado e decorado para a posse de Eduardo Leite (PSDB) como governador do Rio Grande do Sul. Na tarde desta segunda-feira (31), véspera da solenidade, tudo estava pronto – não havia movimento de gente trabalhando por ali, as longas cortinas que pendem em tons amarelo escuro estavam fechadas e as luzes de dois portentosos lustres cravejados de cristais permaneciam apagadas.
Apenas o sistema de ar-condicionado soprava forte, oferecendo sensação de alívio para quem ali adentrava após chegar das escaldantes ruas de Porto Alegre neste último dia de 2018. Ocupado por um governante pela primeira vez em 17 de maio de 1921, época em que Borges de Medeiros imperava por aqui, o Palácio Piratini terá nesta posse um fato novo: a transmissão de cargo no Negrinho do Pastoreio contará com ambiente climatizado.
A instalação de sistema de ar-condicionado em todo o segundo andar do Piratini – abarcando o gabinete do governador, a sua antessala e os salões Negrinho do Pastoreio e Alberto Pasqualini – ocorreu em 2018 por meio da captação de recursos via Lei Rouanet. A arquiteta Maria Clara Bassin explica que os cerca de R$ 2 milhões aplicados na obra foram investidos pelo Banrisul e o projeto de captação de recursos foi apresentado ao Ministério da Cultura pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
Não deverá se repetir a cena de cerimônias anteriores, quando homens e mulheres vestidos dos pés aos pescoços suavam aos borbotões, implorando silenciosamente por uma brisa que viesse da rua para atravessar os janelões do prédio.
Na solenidade, haverá assento disponível para cerca de 200 convidados e 40 autoridades. Nas posses, os lugares em cadeiras costumam ser excedidos por familiares dos entrantes e dos retirantes do governo, simpatizantes, partidários, políticos, futuros integrantes da gestão, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e aspones de toda ordem. O Negrinho do Pastoreio fica apinhado, com dezenas de pessoas aglomeradas e de pé.
A decoração para a solenidade, prevista para começar às 17h, indica simplicidade. O governador José Ivo Sartori, que se despedirá, sentará ao lado de Leite. Atrás deles, bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil. À frente de ambos, uma mesa de madeira com ornamentos em bronze e tampo de mármore, onde assinarão o termo de transmissão de cargo de governador. O móvel, que era usado pelo ex-governador Borges de Medeiros, faz parte do acervo tombado do Palácio Piratini.
O único enfeite extra à paisagem do Negrinho do Pastoreio são quatro arranjos de flores com rosas e cravos, dois deles em vasos prateados, que ficarão logo atrás de Leite e Sartori, um de cada lado das bandeiras gaúcha e nacional. À direita deles, o púlpito em que farão os seus discursos.
Sartori, o de despedida. Leite, de inauguração. Depois, o governador recém-empossado acompanhará Sartori até a portaria principal do Palácio Piratini, trajeto no qual cruzarão, na escadaria coberta por tapete vermelho, com o busto de Getúlio Vargas. Tradicionalmente, quando um ex-governador deixa a sede do governo gaúcho e ganha a calçada da Rua Duque de Caxias, partidários e colegas de gestão se posicionam ali para recebê-lo com aplausos e cumprimentos que marcam o fim de um ciclo de quatro anos.
Após conduzir Sartori, Leite retorna ao Negrinho do Pastoreio para empossar os secretários de Estado. O novo governador, então, se desloca até a antessala do seu gabinete, ao lado do salão da solenidade, para conceder a primeira entrevista coletiva depois de empoderado. Se houver público na Rua Duque de Caxias, ele irá até a sacada para distribuir acenos. Por último, Leite e Ranolfo Vieira Jr., seu vice, receberão os cumprimentos no gabinete, ritual que costuma formar uma longa fila de andar vagaroso devido ao fervor daqueles que ali esperam para desejar sucesso aos recém-empossados.