A divulgação antecipada de um acordo entre as maiores bancadas da Assembleia para o rodízio na presidência da Casa a partir de 2019 causou mal-estar entre os parlamentares. Em duas reuniões sigilosas, na terça-feira (20) e quarta-feira (21), a maioria dos deputados definiu que Luís Augusto Lara (PTB), Ernani Polo (PP), Gabriel Souza (MDB) e Valdeci Oliveira (PT) estarão à frente dos trabalhos legislativos até 2022.
O anúncio oficial deve ocorrer somente no início de dezembro. O rebuliço se deu porque o deputado Edson Brum (MDB) rompeu o pacto de silêncio e vazou para a imprensa nesta quarta-feira os nomes dos futuros presidentes. A reação foi imediata. Os principais envolvidos na negociação negaram o acerto e disseram que ainda buscam consenso entre todas as bancadas.
— Não tem nada fechado ainda. Estamos trabalhando em um plano de gestão compartilhada. Só vamos ter qualquer proposta aprovada depois que todos os partidos admitirem isso. O Edson Brum é que tem de explicar que acordo é esse que ele falou — reagiu Frederico Antunes (PP), articulador do compromisso pluripartidário.
Procurado por GaúchaZH, Edson Brum nega que tenha acontecido um acordo para que ninguém falasse sobre o tema.
— Não houve nenhum pacto de silêncio e não foi fechado nenhum prazo para o anúncio do acordo. Porque essa decisão estava fechada há dias. A única diferença é que a gente tinha 42 deputados apoiando e agora são 46 — afirmou o deputado do MDB.
A inconfidência do deputado refletiu o que havia sido discutido pela manhã na sala Castelo Branco. Juntas, as quatro maiores quatro bancadas — MDB, PT, PP e PTB — conseguiram reunir o apoio por escrito de cerca de 40 dos 55 futuros deputados. Já há também a anuência verbal de dois partidos que haviam encabeçado uma rebelião, PSL e DEM, que somam seis parlamentares.
— Está tudo acertado. Temos 40, 41 assinaturas no acordo. Se contarmos o apoio de quem aderiu mas ainda não assinou, são 48 parlamentares. A questão é que ainda não era hora de isso vir à tona — revela uma testemunha das articulações.
Há pelo menos três semanas a sucessão no comando da Casa era discutida ao pé do ouvido entre deputados e assessores graduados. A negociação avançou após uma investida de siglas menores como PSL, Novo e PPS, que ambicionam maior espaço na máquina diretora. Esses partidos assediaram outras bancadas pequenas, como DEM e PRB, sugerindo a formação de uma chapa para disputar no voto a presidência com os quatro grandes.
MDB, PP, PT e PTB não aceitaram a forma como o assunto foi conduzido pelos pequenos e viraram o jogo, negociando cargos no varejo com PRB, DEM e até mesmo o PSL, que havia inaugurado a rebelião.
— Não importa se fez 200 mil votos ou 15 mil, todos são deputados. Aqui não existe carreira solo e tem de ser na base da conciliação — disse Antunes, comentando a forma de ação dos novatos.
Pegos de surpresa com a manobra, as legendas que ainda não foram contempladas e os deputados que se sentiram desprestigiados pelo acordo liderado pelos quatro grandes agora tentam esboçar uma forma de reação.
— O que está em jogo não é a gestão compartilhada, mas sim 150 cargos em comissão e um caminhão de funções gratificadas. É tradição o presidente ser eleito por unanimidade, mas talvez haja uma leva de votos contrários. E, na próxima eleição, pode ser que o candidato oficial não ganhe — especula, em tom de ameaça, um dos artífices dos partidos menores.