A medida do Facebook de retirar do ar 196 páginas e 87 perfis da rede social relacionadas a notícias falsas por violar o código de autenticidade da rede não surpreendeu alguns dos principais especialistas brasileiros em dinâmicas das redes sociais. Segundo a pesquisadora Raquel Recuero, a empresa já havia se comprometido em adotar política mais restritiva à publicação de informações falsas após a intensa pressão sofrida nos Estados Unidos por conta da suposta influência russa na última eleição presidencial americana.
— O Facebook faria isso em algum momento. São muitas notícias criadas e artificialmente infladas, muitas contas publicando o mesmo conteúdo quase ao mesmo tempo, tudo com a intenção de induzir ao erro.
Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, Fabio Malini afirma que a postura do Facebook demonstra tentativa da empresa de recuperar credibilidade. Jamais a rede havia banido tantas contas falsas de uma só vez e às vésperas de uma campanha eleitoral.
— Isso mostra que o Facebook vai cumprir a promessa de fazer do Brasil um laboratório para reduzir o alcance das fake news. Não se trata de ação de relações públicas. Eles estão desvendando a ação organizada dessas pessoas, que criam ambiente artificial de opinião política, veiculando informações falsas publicadas em sites que fingem ter conteúdo jornalístico. Essa gente sofreu um abalo muito duro hoje.
Entenda o caso
Em ação coordenada para frear o compartilhamento de notícias falsas (fake news) na internet, o Facebook tirou do ar nesta quarta-feira (25) 196 páginas e 87 contas pessoais. Conforme a empresa, os perfis foram apagados por violarem o código de autenticidade da rede, ao esconder "a natureza e origem de seu conteúdo" com a intenção de gerar "divisão e espalhar desinformação". A limpeza massiva atingiu contas vinculadas ao Movimento Brasil Livre (MBL) e ao Movimento Brasil 200, organizado por Flávio Rocha (PRB) que, na semana passada, desistiu da candidatura à Presidência.
"Não queremos este tipo de comportamento no Facebook e estamos investindo fortemente em pessoas e tecnologia para remover conteúdo ruim de nossos serviços", justificou a empresa em nota oficial.
A medida gerou reação imediata do MBL. Os líderes da organização chamaram de "absurda" a acusação de que se tratava de contas falsas, afirmando que muitas continham dados biográficos, endereço e até telefone pessoal dos autores. Dois exemplos citados foram os perfis de Renan Santos e Renato Batista, coordenadores nacionais do MBL.
Em nota oficial, a entidade diz que o Facebook é uma empresa de "esquerda", que age com viés político e ideológico para "perseguir, coibir, manipular dados e inventar alegações esdrúxulas contra grupos, instituições e líderes de direita". À frente do Movimento Brasil 200, que teve a página excluída, Rocha disse no Twitter que a atitude da rede de Mark Zuckerberg foi arbitrária: "Nem no tempo da ditadura se verificava tamanho absurdo".