Eram 17h02min desta terça-feira (10), quando o juiz federal Sergio Moro teve seu nome anunciado em painel da 31ª edição do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre. A plateia aplaudiu:
— Moro! Moro! Moro! — gritou o público presente no Centro de Eventos da PUCRS.
O juiz agradeceu pela oportunidade de participar do fórum organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Em seu segundo debate do dia no evento, declarou que faria uma síntese da Operação Lava-Jato.
Em 22 minutos de explanação, evitou citar nominalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve a prisão decretada por ele na última quinta-feira (5). Ainda assim, o juiz comemorou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da realização de prisões em 2ª instância, o que derrubou o pedido de habeas corpus da defesa do petista na semana passada.
— Fiquei muito feliz com o julgamento no Supremo, não pelo caso especialmente, mas pela ideia de que o princípio de inocência não pode se refletir em impunidade de poderosos. É claro que todos têm direito de defesa. Ninguém quer que um inocente seja condenado. Mas não pode haver um sistema em que pessoas permaneçam impunes só por terem condições de manipular o sistema. O Supremo evitou um grande retrocesso — declarou Moro.
Se dentro do auditório o clima era de apoio ao juiz, no lado de fora houve críticas ao magistrado. Durante o painel, um grupo ligado ao movimento estudantil realizou protesto próximo da entrada do Centro de Eventos. Carregando cartazes, os participantes do ato gritavam frases como “Fora, Moro!”.
Em frente à entrada principal da universidade, movimentos sociais promoveram evento a favor de Lula, preso desde sábado (7) em Curitiba. A atividade foi batizada como "Fórum da Liberdade para Lula".
As manifestações não chegaram a interromper o debate com o juiz federal. O magistrado também afirmou que o ponto "mais assustador" revelado pela Lava-Jato foi a existência de casos de "corrupção sistêmica".
— Isso afeta a nossa economia. Mina a confiança dos cidadãos em seus governantes e no regime democrático — frisou.
O juiz ponderou ainda que avanços no sistema político e nas instituições do país não passam por ações autoritárias:
— Estamos em uma democracia e temos nossos problemas. Mas temos de resolvê-los aumentando a qualidade da nossa democracia. O país criou um ambiente institucional que favorece a corrupção tanto no setor público quanto no privado.
Pela manhã, Moro havia participado de um debate no Fórum da Liberdade em que também elogiou a decisão do STF ao julgar o recurso de Lula na semana passada. Na ocasião, a exemplo do que ocorreu à tarde, evitou citar nominalmente o ex-presidente.
Ao final de sua participação no segundo debate do dia, Moro revelou que, em viagens ao Exterior, tem escutado elogios ao trabalho de combate à corrupção desenvolvido no Brasil a partir de 2014. O magistrado ainda brincou com os aplausos recebidos da plateia:
— Nunca vou concorrer a um cargo público. Mas posso concorrer ao cargo de presidente do IEE.
Promotor elogia investigações no Brasil
Além de Moro, Antonio Di Pietro, vice-procurador no Tribunal de Milão e promotor da Operação Mãos Limpas, que serviu de inspiração à Lava-Jato, também esteve presente no debate. O italiano aproveitou para elogiar as investigações anti-corrupção no Brasil.
— Espero que as coisas melhorem. Hoje, os jovens têm de se perguntar se podem vencer seus concorrentes enganando-os. Se fizerem isso, sempre haverá alguém enganando eles também. Sempre haverá alguém impedindo-os de ir adiante dessa forma. É preciso respeito à lei — afirmou Di Pietro.
Professor de Ciência Política e PhD em Teoria Política e Econômica pela Universidade de Gênova, Adriano Gianturco completou o painel na tarde desta terça. O palestrante declarou que o Brasil tem leis em excesso, que carecem, em muitos casos, de funcionalidade. E avaliou o cenário eleitoral do país:
— Não haverá um salvador da pátria. É o carro que tem de ser trocado, e não só o motorista. Temos de reverter o Estado e limitar sua dinâmica — defendeu.