Em depoimento à Polícia Federal (PF), o empresário Gonçalo Torrealba, investigado sob suspeita de pagar propina ao presidente Michel Temer (PMDB), teria afirmado que João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, atuava como coletor de dinheiro para o peemedebista. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.
Esta seria a primeira vez em que a PF teria obtido confirmação de um dos investigados de que o amigo do presidente há mais de 30 anos pediu dinheiro, em nome dele, a empresas do porto de Santos, tradicional área de influência política do peemedebista. O que contraria o depoimento do presidente prestado por escrito à Polícia Federal, de que o coronel Lima nunca havia atuado na arrecadação de recursos.
Sócio do Grupo Libra, que atua no porto de Santos, Torrealba foi ouvido pelos investigadores nos dias 2 e 3 de abril, após a deflagração da Operação Skala, que prendeu temporariamente Lima e outros amigos de Temer. O depoimento é mantido sob sigilo.
Mesmo sem delação premiada, o dono do grupo Libra teria dado diversos detalhes sobre sua relação com Temer e com o coronel Lima. Entre eles, de que o coronel esteve pessoalmente na sede do grupo Libra, há mais de 15 anos, para solicitar o repasse de recursos financeiros a uma campanha de Temer para deputado federal.
A versão corrobora a delação do grupo J&F, que apontava Lima como recebedor de propina para Temer, e confirma as suspeitas dos investigadores.
O empresário, no entanto, afirmou no depoimento que recusou, à época, fazer o repasse a Temer. Torrealba destacou à PF que este foi o primeiro de diversos contatos que manteve com o coronel Lima ao longo desse período.
Nas 50 perguntas feitas a Temer em janeiro, a PF não questionou sobre a relação do peemedebista com Torrealba, porque o inquérito investigava somente o favorecimento indevido à empresa Rodrimar, por meio de um decreto presidencial do ano passado que prorrogou a duração de contratos no porto de Santos. O dono do grupo Libra entrou na mira depois que a PF recuperou uma investigação antiga, que havia sido arquivada em 2011, na qual o peemedebista era suspeito de receber propina das empresas portuárias.