Política

Recuperação fiscal

Acordo com União depende da superação de discordâncias com Tesouro

Piratini deve enviar nova proposta afastando polêmica em torno do comprometimento da receita com despesas de pessoal

Débora Ely

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Vinicius Reis / Agência ALRS

Superada a aprovação do acordo de recuperação fiscal, o Piratini ainda enfrenta outros dois desafios no processo percorrido para referendar o regime com a União. Na prática, a votação da madrugada de quinta-feira (8) representou somente um modesto passo nos planos do governo gaúcho.

O primeiro dever está no envio de uma nova proposta de contrato que supere as discordâncias sobre o orçamento estadual levantadas pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Em paralelo, o governo encara novo embate na Assembleia para afastar a necessidade de plebiscito para privatizar estatais.

Pelo cronograma do secretário da Fazenda, Giovani Feltes, o plano reformulado deve ser apresentado à STN ainda neste mês. Porém, a etapa depende de entendimento com o Tribunal de Contas do Estado (TCE) para alterar os critérios de cálculo de comprometimento de despesas com pessoal no orçamento — pelo índice atual, o governo está longe do limite exigido para aderir ao plano da União.

— As condições do Estado foram robustecidas nas negociações com o governo federal. Sem a aprovação, estávamos fragilizados — avalia Feltes.

Há duas semanas, o Piratini protocolou no TCE pedido de parecer sobre as repercussões na mudança do cálculo da folha de pagamento. No cenário mais otimista, o assunto deve ser levado ao pleno em dois meses, mas, internamente, enfrenta resistência. Isso porque o entendimento impactaria também os demais poderes e comprometeria a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) de órgãos e prefeituras.

Em Brasília, o governo estadual ainda esbarra no rigor técnico. Em nota, a STN limitou-se a informar que o "Rio Grande do Sul precisa agora fazer um trabalho junto ao TCE para atender às cláusulas do protocolo de acordo firmado no fim do ano passado".

No Piratini, o consentimento dos deputados veio como alívio, mesmo que temporário. Interlocutores de José Ivo Sartori avaliam que a aprovação evita a queda da liminar do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendendo o pagamento da dívida com a União — uma parcela de cerca de R$ 280 milhões mensais.

— O argumento jurídico para manter a decisão de pé está entre os grandes produtos dessa votação favorável. Caso contrário, a situação seria ainda mais caótica — comemora o líder do governo na Assembleia, Gabriel Souza (PMDB).

A polêmica do índice

— Dependendo do tipo de cálculo adotado, o percentual de comprometimento da receita do Estado com o funcionalismo muda. 

— O Tribunal de Contas do Estado (TCE), que faz o cálculo considerado oficial, não considera, na composição de seu índice, despesas com pensões, auxílios, abono de permanência e Imposto de Renda retido na fonte. Esses critérios sempre foram adotados pelo Rio Grande do Sul.

— Com essa metodologia, o comprometimento com pessoal ficava em 52,39% da receita corrente líquida em 2016 (o dado de 2017 ainda não foi divulgado), ajudando os governadores a ficar abaixo do limite de 60% determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. 

— O Piratini pediu no pré-acordo que fosse adotada a metodologia da STN, incluindo os desembolsos deixados de fora pelo TCE. Assim, o Estado passaria a cumprir a exigência de 70% de comprometimento da receita com pessoal. A solicitação foi negada pela STN.

"Não há plano B", diz Feltes sobre PECs

Além dos aspectos técnicos do contrato, o Piratini pretende pressionar o parlamento para que as propostas de emenda à Constituição (PECs) que dispensam plebiscito para a venda de três estatais entrem na pauta de votações. Fundamentais para celebrar o acordo, proposta de privatização ou federalização de empresas públicas tramita há um ano e meio na Assembleia — sem perspectiva de ir a plenário.

Desde dezembro, os projetos sobre CEEE, Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e Sulgás estão em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Sem acordo de líderes, o governo vem fracassando para levar à apreciação.

São necessários votos de 33 dos 55 deputados para aprovar as medidas. Menos polêmica, a adesão ao regime passou com o aval de 30 parlamentares. Por isso, estima-se que o Piratini não tenha a anuência necessária.

— Não há plano B. O governo segue trabalhando com a ideia de votá-las na Assembleia — afirma Feltes.

O Piratini considera as PECs cruciais porque precisa apresentar garantias à União para referendar o regime. Ciente da dificuldade, estuda ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a constitucionalidade da necessidade de plebiscito ou levar à União a alternativa da venda de ações do Banrisul e da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).

Por sua vez, os partidos de oposição pretendem dificultar os planos. Encerrada a sessão, anunciaram um recurso judicial pedindo a anulação da sessão.

— É um absurdo que se tenha aprovado um regime sem seus termos em mãos — diz Stela Farias (PT).

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