O presidente Michel Temer afirmou que a portaria que trata sobre o trabalho escravo deverá sofrer alterações após reuniões do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Em entrevista ao Poder 360, na quinta-feira (19), o peemedebista minimizou a polêmica em torno da medida editada pelo governo, que foi criticada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Temer disse que o ministro do Trabalho está "examinando as sugestões" de Dodge e é "muito provável que incorpore várias" por meio de uma nova portaria. Entre as alterações, estaria a criação de uma delegacia da Polícia Federal (PF) para investigar crimes relacionados ao trabalho escravo.
O presidente rebateu as críticas de que medida dificultaria a comprovação de trabalho escravo por enquadrar como crime apenas os casos em que há restrição no direito a ir e vir.
— A portaria que ele (Nogueira) me mandou, pelo menos, tem várias hipóteses, agora não me recordo de todas, mas reveladoras de que o trabalho degradante, o trabalho que impõe condições desumanas de vida é trabalho escravo. Não é só o direito de ir e vir, não — disse Temer citando auto de infração que enquadrou a ausência de saboneteira como trabalho escravo. — Não estou nem defendendo a portaria e nem condenando a portaria. Estou dizendo que ela está sofrendo objeções que estão sendo analisadas.
Envolvido diretamente na articulação para barrar a denúncia por organização criminosa e obstrução à Justiça, Temer não se pronuncia sobre a votação do relatório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) no plenário da Câmara, prevista para ocorrer na próxima quarta-feira (25). O peemedebista disse que o Planalto prepara novas medias de ajuste fiscal e reconheceu a dificuldade na aprovação da reforma da Previdência. Para o presidente, aprovar a idade mínima e a regra de transição "já está bom".
— Nos primeiros momentos houve afirmações falsas a respeito da reforma da Previdência. Por exemplo, diziam você teria que trabalhar até os 90 anos sob pena de não se aposentar. Então isso criou no primeiro momento uma contrapropaganda. Nós perdemos na comunicação — afirmou Temer ao Poder 360.
Sobre 2018, Temer avalia que o cenário para a disputa ao Planalto "não está definida ainda". O presidente elogiou o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e preferiu desviar-se quando questionado a respeito da possível candidatura do ex-presidente Lula (PT).
— Esta é uma decisão do ex-presidente Lula. Claro que há uma série de condicionantes. Vai depender do presidente — considerou Temer, fazendo referência à possível condenação do petista em segunda instância pela Justiça. — O Doria é uma figura muito adequada ao Executivo. Extraordinário. Sempre se revelou assim na atividade empresarial e agora cuida da Prefeitura de São Paulo.