A tradição de eleições acirradas se repete em Canoas. Em 27 de outubro, o terceiro maior colégio eleitoral do Rio Grande do Sul voltará às urnas para decidir entre Airton Souza (PL) e Jairo Jorge (PSD) para comandar a cidade nos próximos quatro anos. Airton recebeu 35,26% dos votos. Jairo fechou o turno com 29,76%. Uma diferença de 8.030 votos.
A terceira colocação ficou com Campiol (Novo). Os 12,89% de votos são considerados uma surpresa, já que Beth Colombo (Republicanos) é uma figura conhecida da política canoense, com dois mandatos como vice de Jairo Jorge. Ela terminou na quarta colocação, com 10,49% dos votos, seguida de Marcio Freitas (PRD), com 6,93%, e Rodrigo Cebola (PSOL), com 4,67%.
Airton se manteve estável desde a apuração das primeiras urnas, variando entre 38% e 36%. Jairo também oscilou pouco, entre 25% e 26%. Na reta final, ele ganhou fôlego e reduziu a diferença.
Aliança forte
Desde o fechamento das urnas, o comitê de Airton no centro da cidade já registrava aglomeração. Depois do resultado final, a esquina das ruas Doutor Barcelos e Coronel Vicente se encheu e um carro de som tocava incessantemente o jingle da campanha. A letra da musiquinha é, sobretudo, um ataque a atual gestão.
Airton chegou ao local por volta das 19h40min par fazer o seu discurso. Dançou, sem muita desenvoltura, o hit de sua campanha para depois discursar.
— História de muito trabalho, perseverança e muita fé. Foi o que me conduziu até aqui. Alegria enorme a chegada do Rodrigo (vice na chapa) para caminharmos e construirmos uma primeira vitória. Não foi surpresa. Todo mundo estava ansioso e eu estava tranquilo. A minha missão continua — declarou, trajando uma camisa da Seleção Brasileira com o número dele nas urnas, antes de aumentar o tom e fazer um ataque direto a Jairo Jorge.
Além de múltiplos mandatos como vereador, Airton agregou ao seu capital político o de Luiz Carlos Busato, ex-prefeito e atual deputado federal. O filho dele, Rodrigo Busato (União), foi o vice na chapa. Os Busato flertaram apoio a Jairo no começo do ano. O deputado federal Bibo Nunes também foi cabo eleitoral da campanha.
O suporte dos Busato é visto como o fiel da balança no embate com o atual prefeito. No comitê, acredita-se que os votos de Campiol e Beth Colombo migrarão para o candidato no segundo turno.
A coordenação da campanha via o crescimento da candidatura na segunda metade da corrida eleitoral, embora também reconhecesse o crescimento de Jairo Jorge. O resultado final foi acima das expectativas. O cenário imaginado era de que ele terminasse em segundo lugar com chances de virar a disputa na segunda etapa do pleito.
Trabalho contra a rejeição
No atual mandato, Jairo ficou fora da prefeitura por 493 dias quando foi afastado após ser acusado em um processo que apura fraude em contratos com empresas terceirizadas que prestam serviços à cidade. Dias depois de reassumir o cargo, ele precisou lidar com a enchente de maio. Canoas foi uma das cidades gaúchas mais castigadas pela chuva.
Ao comentar o resultado, o atual prefeito evitou ataques diretos ao concorrente, mas realizou comparações:
— Mostramos que temos força. Mas mostrou que a população quer debater mais. Vamos discutir o projeto de cidade. Comparar biografias, trajetórias. O que se fez, o que não se fez e o que se deixou de fazer. Essa é a síntese do segundo turno.
A combinação de um período de idas e vindas no comando da prefeitura e o caos trazido pelas cheias de maio elevaram o índice de rejeição do candidato. O trabalho da campanha foi reduzir o percentual para deixar a candidatura competitiva. Estima-se que cerca de 20 pontos percentuais de reprovação tenham sido diminuídos nas últimas semanas.
— O Jairo demorou para entrar na campanha, porque ele ainda governa a cidade. Apanhou bastante no início — explica Marcos Martinelli, coordenador da campanha de Jairo.
Jornalista de formação em uma cidade em que não há propaganda política na TV, Jairo produziu jornais para distribuir entre os eleitores. O informativo tinha como objetivo reforçar o seu trabalho durante a enchente e na reconstrução pela qual Canoas terá de passar. A distribuição era feita pelo próprio candidato em diversos bairros da cidade no horário de almoço, no final da tarde e aos finais de semana.
Ganho e perda de espaço
Campiol em terceiro foi uma das grandes novidades no pleito. Sem ligação prévia com outros concorrentes, ele fez uma campanha mais solta.
O contrário aconteceu com Beth Colombo. Por duas vezes vice de Jairo Jorge na prefeitura, ela tentou descolar a sua imagem do aliado do passado.
— Mostramos que era uma candidatura legítima, sem vergonha do passado, mas mostrando que o momento, hoje, era outro — destaca Lucas Dalfrancis, um dos coordenadores da campanha.
Imaginava-se que Beth estava em crescimento nas últimas semanas e pudesse fazer frente para disputar uma vaga no segundo turno. Sua estratégia foi mostrar um posicionamento em meio à guerra de versões do embate político canoense. Também apostou na utilização de mídias estatísticas coloridas para chamar a atenção do eleitor. Pessoas ouvidas pela reportagem dizem que ela "coloriu uma cidade cinza".
No fim, as cores que seguem vivas na batalha política de Canoas são as de Airton Souza e Jairo Jorge.