Os vereadores de Porto Alegre Alexandre Bobadra (PL) e Leonel Radde (PT) foram ouvidos na manhã desta terça-feira (25) no programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Eles apresentaram suas versões sobre o caso da última sexta-feira, quando ambos acabaram em uma delegacia de polícia após se envolverem em uma confusão, com agressões físicas, no centro de Porto Alegre.
O caso resultou em dois registros de ocorrência, com ambos os vereadores se dizendo vítimas de lesão corporal e vias de fato. Nas entrevistas desta terça, eles elevaram o tom e trocaram acusações de tentativas de homicídio.
Bobadra foi questionado sobre o momento, registrado em vídeo, em que dá socos em Radde. Ele alegou que se sentiu ameaçado por alguém, que seria um segurança do petista, com uma arma de fogo e que apenas reagiu a agressões:
— Encostou um cara armado em mim. O cara de camisa listrada estava armado. E ele encostou em mim com a arma, que estava na cintura dele. Eu me senti muito ameaçado naquele momento.
— Eu fui agredido primeiramente. Eu agi em legítima defesa. E depois sofri uma tentativa de homicídio — acrescentou Bobadra.
As imagens feitas por populares mostram que o vereador do PL foi atingido, pelas costas, com uma cadeira de um dos restaurantes das proximidades de onde a confusão ocorreu.
Radde, por outro lado, alega que as cadeiradas foram desferidas por um popular que não tinha vinculação com ele, mas que evitaram que ele fosse morto.
— (Bobadra) me deu três socos na cara. Eu tento me retirar, eu saio agachado e ele segue me perseguindo, atropela uma mesa com crianças. Eu caio no chão, ele começa a me desferir socos na cabeça, chutes nas costelas e só é parado porque terceiros colocam aquela cadeirada, se não ele teria me matado ali no chão.
O vereador do PT negou que estivesse acompanhado de seguranças e disse que não havia ninguém armado no local.
— Não houve agressão alguma ao Bobadra. Eu estava indo embora, estava de costas, com as mãos junto ao corpo. Ele tentou quebrar meu braço, eu estava tentando me desvencilhar.
Panfletos motivaram briga
A confusão começou, e nisso os relatos dos dois coincidem, porque Radde estava fiscalizando a distribuição de materiais de campanha na área central. O vereador do PT diz que recebeu informações de apoiadores sobre a entrega de panfletos cujo uso já teria sido proibido pela Justiça Eleitoral e foi verificar a situação. Ele afirma que fotografou e filmou os materiais, mas que não apreendeu os itens, apenas evitou que fossem entregues e acionou, com ajuda de militantes, a Brigada Militar. Bobadra alega que Radde furtou materiais de campanha e que correu atrás do petista quando este já estava indo embora para tentar verificar quais panfletos estavam sendo levados — foi quando as agressões aconteceram.
Questionado se estava arrependido do envolvimento na confusão, Bobadra disse que gostaria de não ter saído de casa na sexta-feira.
— Demos mau exemplo para a sociedade naquele dia. Tenho certeza de que nós dois fomos culpados. Ele (Radde) mais culpado do que eu.
Leonel Radde, questionado da mesma forma, teve posição diferente:
— Não me arrependo de nada, porque fui vítima e estava simplesmente cumprindo minha função de cidadão.
O caso será investigado pela 1ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.
— Os vereadores estão cadastrados como vítimas, posteriormente será apurada (a situação) dos dois, seja como vítima ou como agressor — explicou à reportagem de GZH, ainda na sexta-feira, o coordenador das delegacias de Pronto Atendimento de Porto Alegre, delegado Rodrigo Reis.
Condutas serão analisadas também na Câmara
Alexandre Bobadra e Leonel Radde também acionaram a Comissão de Ética da Câmara de Vereadores, um pedindo a cassação do mandato do outro. O presidente do Legislativo da Capital, Idenir Cecchin (MDB), disse que o processo será aberto e que o objetivo é que ele seja concluído ainda em 2022.
Independentemente deste procedimento, Radde deixa a Câmara de Porto Alegre no fim do ano. Ele foi eleito deputado estadual e, portanto, ocupará cadeira na Assembleia Legislativa a partir de 2023.
Bobadra já responde a outro processo de cassação. No fim de junho de 2022, ele teve o mandato e o diploma eleitoral cassados pela Justiça Eleitoral em Porto Alegre. Ele teria sido beneficiado por irregularidades na distribuição de recursos para campanha e tempo de propaganda em rádio e TV do PSL, partido pelo qual foi eleito vereador em 2020. Apesar da condenação em primeira instância, ele se mantém no cargo enquanto aguarda análise do caso em instâncias superiores da Justiça.
A confusão envolvendo Bobadra e Radde levou à suspensão das reuniões da Câmara de Vereadores de Porto Alegre nesta semana. A decisão foi tomada por Cecchin, que alegou "aumento na tensão" entre os políticos, por causa da proximidade do segundo turno das eleições, e necessidade de "preservar a integridade dos vereadores, dos funcionários, e da própria Câmara".
Ouça as falas dos dois vereadores na íntegra: