Após João Amoêdo, um dos fundadores do Partido Novo, declarar voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste sábado (15), filiados à legenda foram a público se manifestar contra a posição adotada pelo correligionário e reafirmar críticas ao ideário petista. O presidente da agremiação, Eduardo Ribeiro, chamou a declaração de "vergonhosa e constrangedora", e a executiva do partido lançou nota reforçando oposição ao candidato do PT.
"O PT e o Lula representam tudo o que o nosso partido sempre combateu. Essa é a prova final de que o Novo nunca mudou, quem mudou foi o João", afirmou Ribeiro.
Ao Estadão, Amoêdo afirmou que a decisão não foi fácil e que nunca antes havia depositado voto no PT.
— Não foi uma decisão fácil. Discordo das ideias e métodos do PT, mas nesse momento, julgo a reeleição de Bolsonaro um risco maior para o país. Por isso, decidi fazer algo que nunca tinha feito na vida, votar no PT — disse.
A declaração de voto no petista foi feita primeiro à Folha de S.Paulo.
O ex-presidente Lula foi ao Twitter agradecer o apoio. "A gente pode ter muitas discordâncias. Mas, acima disso, está o respeito ao direito de discordar", publicou.
Amoêdo não comentou as críticas que vem recebendo por parte de correligionários. Ele foi candidato à Presidência pelo Novo em 2018 e terminou a disputa em quinto lugar. Candidato a vice em sua chapa naquele ano, o cientista político Christian Lohbauer (Novo) gravou um vídeo sugerindo a expulsão de Amoêdo dos quadros do partido.
— O João Amoêdo se transformou numa pessoa irrelevante no partido e na política brasileira. Não faz a menor importância o que ele pensa e o partido deveria expulsá-lo, como já fez com casos muito menos graves do que este — afirmou.
O ex-presidenciável Felipe d'Ávila (Novo) também convidou Amoêdo a se retirar do partido. Segundo ele, o correligionário "traiu" os valores da legenda ao se alinhar ao PT.
"A declaração de voto de Amoêdo ao Lula é uma traição aos valores liberais, ao partido Novo e a todas as pessoas que criaram um partido para livrar o Brasil do lulopetismo, que tantos males causou ao Brasil. Amoêdo: pega o boné e vai embora. Você não representa os valores liberais", escreveu.
O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) gravou um vídeo chamando o episódio de "inadmissível" e "inacreditável".
— João Amoêdo não me representa! Deve se desligar do Novo se tiver ainda dignidade ou então a Comissão de Ética deve tomar providências urgentes — afirmou.
Ainda que continue filiado ao partido, Amoêdo tem se distanciado do Novo por divergir das posições da legenda durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Em fevereiro do ano passado, ele se manifestou publicamente contra a soltura do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), enquanto toda a bancada do partido foi contra a prisão. O empresário também discordou da legenda em questões como oposição ao chefe do Executivo e obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19.
Amoêdo chegou a ser lançado pelo Novo, em 2021, como pré-candidato ao Planalto pela legenda, mas desistiu em seguida. À época, ele justificou a decisão pela "ausência de um posicionamento transparente, firme e célere da instituição". Sua pré-candidatura ruiu após sofrer pressão interna de uma ala do partido.
Leia a nota do Partido Novo:
"A declaração de voto de João Amoêdo em Lula, que sempre apoiou ditadores e protagonizou os maiores escândalos de corrupção da história, é lamentável e incoerente. Seu posicionamento não representa o Partido Novo e vai contra tudo o que sempre defendemos. A triste declaração constrange a instituição, que se mantém coerente com seus princípios e valores e reforça que Amoêdo não faz mais parte do corpo diretivo do partido desde março de 2020. Apoiar aqueles que aparelharam órgãos de Estado, corromperam nossa democracia e saquearam os cofres públicos é fazer oposição ao povo brasileiro. O NOVO sempre foi e sempre será oposição ao lulopetismo e tudo que ele representa".