No dia 2 de outubro, quando os eleitores do RS estiverem votando e definindo os rumos do Estado e do país pelos próximos quatro anos, se encontrarão com pelo menos um dos mais de 67,2 mil voluntários que atuarão como mesários no domingo de eleições. O número de pessoas engajadas por iniciativa própria, no processo de trabalho das seções eleitorais, representa 64,74% — quase dois terços — dos 103.798 mesários já convocados e capacitados pela Justiça Eleitoral gaúcha para o primeiro turno.
Alessandro Gressler da Silveira é uma dessas pessoas. No domingo, 2 de outubro, seu turno de atividades se iniciará antes das 7h. A democracia exige que seus colaboradores se mobilizem cedo. Durante o dia, compartimentado entre aspiração de sonhos e cumprimento de obrigações, este bancário de 47 anos vai recepcionar, identificar, orientar e encaminhar os eleitores para registrar seu voto nas cabinas.
Será a 11ª participação em mais de 20 anos de dedicação voluntária ao processo eleitoral brasileiro.
— Me preparei para exercer esta função pois considero uma forma de contribuir para a sociedade. A gente sabe que são necessárias muitas pessoas e nem sempre a Justiça Eleitoral as encontra com facilidade. Decidi, por minha conta, assumir esta responsabilidade — conta Silveira.
O trabalho dele, bem como dos mais de 100 mil colegas, só termina depois das 17h. Serão guardiões das urnas.
— O voto é o único momento da vida saudável na sociedade atual, em que a influência do pobre tem o mesmo valor que a do rico. Do voto, pode sair a transformação, não apenas de uma vida, mas de uma coletividade ou geração inteira. Não dá para desperdiçar — comenta a engenheira Renata Vieira, que também irá cumprir expediente cidadão no domingo de eleição.
Eu me preparei para exercer esta função pois considero uma forma de contribuir para a sociedade.
ALESSANDRO GRESSLER DA SILVEIRA
Bancário
Aos 37 anos, presidirá uma seção pela sexta ocasião consecutiva. Trabalha desde 2010 como mesária voluntária.
— Faço isso porque acredito que a gente tem de doar um pouco do nosso tempo para os outros. Esta foi a forma que encontrei de fazer minha parte — assegura Renata.
Treinados
Alessandro e Renata, de acordo com o coordenador de Sistemas de Eleições e Logística do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS), Cássio Vicente Zasso, integram o grupo de 103.798 mesários treinados e habilitados pela Justiça Eleitoral, até o último dia 15, para atuar em 2 de outubro.
Mas as convocações ainda não terminaram. Zasso explica que mais de 4 mil pessoas ainda serão recrutadas para atuar como parte complementar dos titulares ou como reservas para substituição, em caso de ausência dos primeiros convocados. Os reservas não precisam se apresentar para a atividade, exceto de forem acionados nessas circunstâncias.
Do voto, pode sair a transformação, não apenas de uma vida, mas de uma coletividade ou geração inteira. Não dá para desperdiçar.
RENATA VIEIRA
Engenheira
O coordenador setorial do TRE-RS acrescenta que o treinamento dos mesários abordou, além das atividades convencionais, temáticas como a proibição da captura de imagens pelo eleitor diante da urna, a vedação do porte de armas nas imediações dos locais de votação e a capacidade de mediação perante eventuais atritos entre eleitores.
Participantes têm receio de potenciais conflitos
Com orientações bastante claras e treinamento consolidado para lidar com situações, das mais comuns até as inusitadas, mesários — ainda assim — revelam receios sobre potenciais conflitos no domingo de eleições.
— Meu maior medo, desde a minha primeira participação em 2018, é a violência. Preocupa a forma como se expressam alguns eleitores. Por ser mulher, temo ainda mais a postura machista e agressiva que vem se apresentando em nossa sociedade — desabafa a professora Jaqueline Zarpelon, 27 anos.
A insegurança da voluntária é provocada pelo tipo de comportamento que tem cintilado alertas no radar da Justiça Eleitoral. Os descumprimentos, contudo, não serão tolerados. Celulares e outros dispositivos com aplicação para captura de fotos ficarão sobre a mesa, após a identificação do eleitor, e serão resgatados depois da efetivação do voto na urna.
Brigas e ostentação de armamento são questões inaceitáveis, segundo o TRE-RS. Os mesários, para dar conta de eventuais complicações no curso das atividades, terão acesso por linha direta ao cartório e ao juiz eleitoral mais próximo que, por sua vez, poderá acionar forças de segurança pública.
Inovação
Envolto por uma atmosfera de tensões e pressões, o primeiro turno das eleições gerais também concederá espaço para a inovação. Cerca de 700 mil eleitores gaúchos poderão ser convidados a validar as informações biométricas compartilhadas com a Justiça Eleitoral pelo Detran-RS e pelo Instituto-Geral de Perícias, responsáveis pelas identificações digitais de condutores e portadores de RG no Estado.
Os dados poderão ser validados, com o consentimento de eleitores, para serem utilizados definitivamente na identidade eleitoral, eliminando a necessidade de coleta biométrica específica.