Ao deparar com a urna eletrônica no dia 2 de outubro, o eleitor não terá somente a oportunidade de escolher o presidente da República e o governador de seu Estado. Os três primeiros votos serão para deputado federal, deputado estadual e senador. Embora as campanhas para esses cargos não ocupem tanto espaço na mídia, os eleitos serão responsáveis por decidir sobre inúmeros assuntos relevantes nos próximos quatro anos.
Em muitos casos, é comum que a decisão sobre em quem votar para o Legislativo seja deixada para os últimos dias da campanha eleitoral. No Rio Grande do Sul, por exemplo, foram registradas mais de 830 candidaturas a deputado estadual e 546 a deputado federal. Descontando os que estão fora da disputa por razões como renúncia ou indeferimento da candidatura, são 535 concorrentes aptos a receber o votos dos eleitores para as 31 vagas do Rio Grande do Sul na Câmara Federal e 789 candidatos para as 55 cadeiras na Assembleia Legislativa.
Para o Senado, em que há apenas uma vaga em disputa, a lista é menor: nove concorrentes disputam a preferência do eleitorado.
Os futuros deputados federais e senadores terão a responsabilidade de decidir sobre temas como a correção na tabela do Imposto de Renda, regras da Previdência Social e reforma tributária. Já os deputados estaduais poderão opinar, por exemplo, sobre temas de competência do Estado, como a eventual privatização do Banrisul e a venda de bebidas alcoólicas em estádios de futebol.
Para auxiliar aqueles que ainda não se decidiram, a reportagem de GZH consultou três cientistas políticos a respeito de quais critérios os eleitores devem avaliar no momento de optar por um representante e também como identificar um candidato alinhado à sua visão de mundo.
São eles:
- Juliana Fratini, organizadora do livro Ideologia: Uma para Viver
- Otávio Catelano, pesquisador de doutorado em Ciência Política da Unicamp
- Rodrigo Stumpf González, professor do departamento de Ciência Política da UFRGS
Veja, a seguir, algumas dúvidas comuns que aparecem neste período e informações que podem ajudar o eleitor a definir o voto:
Não sei em quem votar e não me identifico com uma ideologia específica. Como escolher alguém?
É justamente para propiciar aos eleitores a interação com os candidatos que existe o período da campanha eleitoral. Nesta época, os candidatos estão ocupando espaços em diferentes meios de comunicação e se apresentando, explicando o que pretendem fazer se forem eleitos e quais as bandeiras que defendem.
Antes de tudo, é importante tentar identificar o que cada concorrente fez em sua vida pregressa, se já se envolveu em algo errado e/ou se já prestou serviços relevantes para a sociedade. A velha e boa pesquisa no Google pode ajudar, desde que sejam consultados portais com credibilidade, sobretudo os de veículos de comunicação consolidados.
Também é possível acessar diretamente as páginas dos candidatos e enviar perguntas sobre determinados assuntos que você considera importante. As respostas podem ajudar a definir o voto.
Para Juliana Fratini, o eleitor deve tentar identificar quais dos concorrentes propõem as melhores soluções para os problemas que considera mais relevantes para si e para a sua comunidade:
— É como se a pessoa conjugasse aquilo que ela entende como melhor para ela e o melhor para o coletivo.
Uma das recomendações de Rodrigo Gonzáles é a de que, caso o indivíduo não costume discutir política, busque informações e indicações com familiares ou amigos de confiança que debatam o tema com mais frequência:
— Algo que nós fazemos pouco é conversar sobre política. Quem não costuma fazer isso pode buscar aqueles que tenham mais informações dentre as pessoas de sua confiança, que possam passar informações fidedignas e não atuem simplesmente como cabos eleitorais de um ou outro candidato.
Otávio Catelano pondera que, na medida do possível, o eleitor deve verificar também qual a viabilidade do nome escolhido:
— Por exemplo, o eleitor pode se identificar plenamente com candidaturas que estão em um partido que dificilmente elegerá alguém. Neste caso, pode optar por um candidato que tenha 80% ou 85% de convergência com o que pensa e que tenha mais chances de ser eleito.
Identificação com pautas e ideologias
O partido político é importante na hora de escolher meu candidato?
Sim. Para cargos no Legislativo, o cálculo da eleição leva em conta os votos totais de um partido antes da distribuição das vagas entre os candidatos.
Para Catelano, antes de definir o voto em um candidato a deputado, o eleitor deve saber qual é o partido ao qual ele está filiado e verificar se tem identificação com as bandeiras da legenda.
— No Brasil, os candidatos disputam externamente e também internamente. Se um partido ganhar duas vagas, quem fica com as cadeiras são os dois mais votados. Se quiser, o eleitor pode votar na legenda (número do partido) ao invés de escolher um candidato — explica.
Sou de esquerda/centro/direita e quero escolher um concorrente que tenha pensamento semelhante ao meu. O que devo fazer?
Neste caso, é essencial identificar os candidatos que externam propostas identificadas com a sua visão de mundo. Mais uma vez, é relevante considerar os partidos políticos ao quais estão filiados. Um dos critérios mencionados por Juliana é observar a perspectiva histórica dos concorrentes:
— É importante notar quais as relações políticas que cada candidato desenvolveu no passado e como se posiciona em relação à perspectiva de futuro para entender quem pode contribuir mais para realizar as propostas identificadas com aquele campo.
Quero eleger alguém que represente uma causa determinada (a defesa dos animais, por exemplo). Como verificar quem realmente está comprometido com essa agenda?
É legítimo que o eleitor escolha um candidato com base em uma determinada bandeira representada por ele, sobretudo para cargos proporcionais. Ao mesmo tempo, é importante considerar que, no cargo, ele precisará tomar decisões sobre inúmeros assuntos diferentes, não apenas a respeito de um específico.
Se o candidato busca a reeleição, o eleitor pode verificar se ele realmente se esforçou para defender sua causa. Se está tentando se eleger pela primeira vez, cabe uma pesquisa sobre o que ele já fez pela matéria e se começou a falar no assunto apenas no período pré-eleitoral.
Nesse ponto, Gonzáles pondera que não existe um tema "neutro". Ou seja: a mesma causa pode ser abordada sob diferentes perspectivas.
— A defesa da família, por exemplo, pode ser adotada tanto em termos progressistas quanto de um ponto de vista mais conservador. O indivíduo tem de pensar em candidatos que abordem o tema a partir de sua concepção.
Motivos para votar
Quero votar em um candidato que trouxe recursos para a minha cidade, independentemente de partido. Isso está correto?
O eleitor é livre para determinar quais critérios vai avaliar no momento de escolher um candidato. São muitos os postulantes que baseiam a campanha em informar que encaminharam recursos do orçamento para determinados municípios ou regiões, a fim de conseguir os votos da comunidade.
Juliana ressalta que essa estratégia é utilizada por muitos políticos para fidelizar o eleitorado.
— As pessoas se sentem satisfeitas e atendidas dentro de suas demandas. Nesse sentido, é uma escolha mais racional do eleitor, pensando no aspecto do desenvolvimento local.
Catelano faz uma avaliação dividida sobre esse caso:
— Por um lado, acho que isso pode reforçar a prática do clientelismo. Muitas vezes, o recurso é um paliativo e não ajuda a resolver o problema. Por outro, vejo que isso também é a democracia funcionando. O recurso tem de chegar a todos os lugares e os legisladores acabam ajudando nisso.
É melhor votar em um candidato à reeleição ou em alguém que não tem mandato?
Como ambos dependem de um bom desempenho eleitoral para conquistar um novo mandato, essa avaliação deve ficar a cargo do eleitor. Um dos critérios a ser observado é se o voto conferido na eleição anterior foi justificado.
— É preciso relembrar em quem votou na eleição passada. Se foi eleito, o candidato cumpriu o que prometeu? Formulou boas propostas? Denunciou irregularidades? Tudo isso deve ser considerado — aponta Gonzáles.
Não gosto de nenhum candidato, estou errado em votar em branco/nulo?
É um direito do eleitor não optar por nenhum concorrente. Todavia, é fundamental entender que, ao fazer isso, o cidadão está abrindo mão de escolher alguém para representá-lo.
É preciso lembrar que, por maior que seja o contingente do eleitorado que deixe de escolher um concorrente, todas as vagas em disputa serão preenchidas.
Depois de votar, o que posso fazer para saber se fiz a escolha certa?
Caso seu candidato seja eleito, você tem diversas maneiras de acompanhar o trabalho dele durante o mandato. Seja pelo noticiário político, pelas páginas dos órgãos oficiais (como sites da Assembleia Legislativa e da Câmara dos Deputados) ou pelas próprias redes sociais dos políticos.
O eleitor também pode utilizar canais como ouvidorias, portais de transparência e a Lei de Acesso à Informação (LAI) para fiscalizar e cobrar os políticos durante o mandato.