Há 26 anos, a urna eletrônica surgia no Brasil como uma saída para reduzir ao máximo a possibilidade de intervenção humana no processo eleitoral. Passado esse período, a invenção genuinamente brasileira segue sem nenhuma fraude comprovada no currículo, mas continua sendo alvo de controvérsias — que vão desde a tentativa de tornar obrigatória a impressão de comprovantes do voto até a contestação oficial diante de representantes outros países.
Nas eleições de 2022, parte do eleitorado encontrará um modelo diferente de urna: com novo layout, em que o teclado numérico fica abaixo do visor, a versão tem processador mais eficiente, bateria que não precisa de recarga e melhoria nos recursos de acessibilidade. Ao todo, 225 mil das 577 mil urnas utilizadas no pleito serão do novo modelo.
A seguir, confira como funciona o equipamento, onde ele é usado e quando foi adotado pela primeira vez. Mais abaixo, veja ainda perguntas e respostas sobre o sistema desenvolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e detalhes sobre a segurança das urnas.
Se hackers conseguem invadir até o sistema da Nasa, por que não conseguiriam entrar na urna eletrônica?
A urna não está conectada à internet nem em nenhum dispositivo de comunicação. A única forma de um hacker invadir o equipamento, segundo o TSE, seria rompendo os lacres físicos e quebrando as mais de 30 barreiras de segurança do sistema, mas, ainda assim, seria impossível violar um aparelho sem deixar rastros.
A tecnologia da urna é da Justiça Eleitoral ou da empresa que fabrica o equipamento?
O projeto é 100% nacional e pertence ao TSE. A fabricação das urnas, cujo contrato é da empresa que vence o processo licitatório, é acompanhada por técnicos do tribunal.
É verdade que Brasil, Cuba e Venezuela são os únicos países a usar urnas eletrônicas?
Não. Esse é um boato que circula no WhatsApp. Segundo o Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Social (IDEA Internacional), ao menos 46 países usam urnas eletrônicas. A lista inclui nações de sólida tradição democrática, como Canadá e Estados Unidos (em alguns Estados). Na América Latina, México e Peru também usam o sistema. Na Ásia, além de Japão e Coreia do Sul, há o exemplo da Índia, que é a maior democracia do mundo em número de eleitores (mais de 800 milhões) e usa urnas semelhantes às brasileiras, mas adaptadas à sua realidade.
Se o voto eletrônico é tão confiável, por que os Estados Unidos não adotaram no país inteiro?
Cada um dos 50 Estados do país tem autonomia sobre a forma de votação. Parte adota o voto eletrônico, sendo que sete usam urnas semelhantes às brasileiras (sem impressão de voto). Estados que não adotam o sistema consideram os custos envolvidos altos e confiam no sistema tradicional. O equipamento utilizado no Brasil não é visto em uso em outros países por se tratar de um projeto nacional, de propriedade do TSE, que não pode ser comercializado.
Quais são os principais mecanismos de segurança?
São três principais mecanismos: assinatura digital e resumo digital, que são técnicas criptográficas, e segurança em camadas. A assinatura digital é usada para garantir que o conteúdo (ou arquivo digital) tenha a integridade verificada. Se for violado, a assinatura fica inválida. Já o resumo digital, uma espécie de síntese de cada arquivo de dados e programas, é publicado automaticamente no portal do TSE. Se alguém tentar violar a urna, o resumo é alterado. A segurança em camadas é o encadeamento de barreiras à ação de hackers. Qualquer ataque ao sistema causa um efeito dominó e a urna trava.
Segurança do novo modelo
Veja os principais itens de segurança da nova urna. Alguns também existem nas antigas:
- O teclado é cifrado e somente pode ser lido pela placa-mãe e pelo software da urna. A criptografia ocorre dentro do próprio teclado, que é protegido por uma resina epóxi inviolável. Quando apresenta problemas, ele precisa ser substituído. O dispositivo existe para impedir que os números digitados sejam lidos por outro computador.
- A impressora reconhece a assinatura digital dos dados que estão sendo enviados para o papel
- A placa-mãe conta com um chip criptográfico também protegido por resina epóxi, para não ser acessado. Não há nenhum comando ou código de programação capaz de desativá-lo
- Ao ligar a urna, o chip criptográfico verifica o chip com os dados mais básicos do aparelho, cujo nome técnico é BIOS. Todos os computadores possuem uma BIOS, mas na urna eletrônica ele só pode ser acessado pelo chip criptográfico. Somente depois de verificar que os dados estão corretos é que o processador principal é acionado e a urna é ligada de fato
- O sistema também é capaz de identificar se está, de fato, rodando em uma urna. Se ele identificar que se trata de outro dispositivo, deixa de operar. Da mesma forma, se uma urna eletrônica identificar que o software que está em operação não é aquele assinado digitalmente pela Justiça Eleitoral, o aparelho desliga automaticamente
Em março, GZH acompanhou a auditoria nas urnas realizada pelo TSE em Garibaldi. Relembre: