Candidatos à Presidência da República comentaram, nesta quarta-feira (14), o ataque do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) à jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, e colunista do jornal O Globo. O caso aconteceu na noite dessa terça-feira (13), após debate promovido pela TV Cultura entre candidatos ao governo de São Paulo.
Líder das pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse no Twitter estar "triste com o desrespeito" contra a jornalista. "Debates deveriam ser notícia pelas propostas, não por ataques contra mulheres jornalistas, promovidos por quem vive do ódio e não gosta da democracia", pontuou o presidenciável.
Ciro Gomes (PDT) também se manifestou sobre o ataque — já parte de uma sequência contra a apresentadora. Segundo ele, a escalada "já chegou ao ponto máximo, e tem que ser vista como uma múltipla ação terrorista que afronta não apenas uma mulher e jornalista independente, mas toda uma sociedade democrática". "Os cães raivosos, como Douglas Garcia, não agiriam com tanta desenvoltura se não tivessem, de um lado, o estímulo e o apoio de Bolsonaro, líder da facção, e do outro, a passividade das autoridades", reclamou, convocando o Legislativo paulista a não ficar calado.
A também candidata Simone Tebet (MDB) foi outra a se manifestar, dizendo que acordou em Recife "com essa barbaridade". A emedebista considera que o "comportamento covarde do Presidente é uma licença para esse tipo de absurdo, agora de um parlamentar". Pediu ainda que a Polícia Civil, a Assembleia Legislativa e o próprio Republicanos punam o deputado.
Ataque
O ataque aconteceu após o debate da TV Cultura entre candidatos ao governo de São Paulo. Douglas Garcia foi até a jornalista e questionou:
— Vera, você assinou um contrato de meio milhão de reais para falar mal do presidente da República?
O valor referido diz respeito ao contrato anual de Vera Magalhães com a Fundação Padre Anchieta, gestora da TV Cultura. A jornalista chamou a segurança e o deputado proferiu ofensas, afirmando que ela é uma “vergonha” para a profissão.
— Você é deputado e veio para fazer essa palhaçada? — perguntou Vera posteriormente. —Eu tenho vergonha na cara, o contrato é de R$ 200 mil, eu publiquei e você sabe.
Crítica bolsonarista
Os ataques à jornalista ganharam força depois que o presidente disse no debate da TV Bandeirantes, no dia 28 de agosto, a ofensa repetida pelo apoiador nesta terça-feira: a de que Vera Magalhães é uma vergonha à profissão. Nas redes sociais, Jair Bolsonaro não se manifestou sobre o novo caso de violência.
Contudo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, publicou mensagens no Twitter dizendo que o ataque é "lamentável por muitos motivos". "Em primeiro lugar, não há justificativa para provocar uma jornalista e tentar constrangê-la gratuitamente no seu local de trabalho, sem que ela tenha dado qualquer motivo para isso", afirmou.
O bolsonarista afirmou que, se havia algo a ser questionado, "com certeza aquele não era o local nem o momento mais adequado". Eduardo Bolsonaro lembrou que os parlamentares têm "meios para questionar, exigir documentos e fazer uma fiscalização eficaz, capaz de sanar qualquer dúvida sem lacradas ou mitadas". Por fim, pediu que os eleitores observem quem sabe trabalhar em equipe, dedicando-se a um projeto "maior do que si próprio" e buscando resultados "sem fazer muito barulho".
Outros apoios
Pelas redes sociais, o candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), apoiado por Bolsonaro, manifestou repúdio ao ato do deputado estadual, que classificou como "agressão". "Lamento profundamente e repudio veementemente a agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães enquanto exercia sua função de jornalista durante o debate de hoje. Essa é uma atitude incompatível com a democracia e não condiz com o que defendemos em relação ao trabalho da imprensa", escreveu.
Os também candidatos ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB) repudiaram o ataque também. "Repúdio total ao ataque covarde sofrido pela jornalista Vera Magalhães pelo deputado Douglas Garcia em uma clara tentativa de ataque à liberdade de imprensa, método bolsonarista de intimidação contra a democracia", escreveu o petista.
O tucano disse que o ataque "não representa os valores democráticos". "Meu total repúdio ao ataque covarde que a jornalista Vera Magalhães sofreu, após o debate da TV Cultura, vindo de um sujeito que não representa os valores democráticos nem o povo de São Paulo. Minha solidariedade a você, Vera", escreveu Rodrigo Garcia.
Em nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenaram "de forma veemente a agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães".
"A intimidação e ofensas desferidas contra Vera Magalhães pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) são uma tentativa de constranger o livre trabalho da jornalista e uma inaceitável agressão à liberdade de imprensa. A ABERT, a ANER e a ANJ repudiam as agressões, esperam as devidas providências em relação à atitude do parlamentar e alertam para a necessidade de respeito à atividade da imprensa como parte essencial do sistema democrático", diz o texto.