As duas pesquisas Ipec contratadas e publicadas até o momento pelo Grupo RBS revelam os setores do eleitorado gaúcho em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), candidatos que lideram a corrida presidencial, têm menos votos. São setores em que ambos precisam vencer resistências para ampliar o potencial de urna.
Primeiro colocado nos dois levantamentos, Lula obteve as menores intenções de voto entre os eleitores com renda superior a cinco salários mínimos, os evangélicos, os homens e os entrevistados com Ensino Superior (veja percentuais no infográfico abaixo).
Já Bolsonaro, que precisa melhorar a performance na tentativa de ser reeleito, registrou as mais baixas intenções de voto entre as mulheres, os jovens de 16 a 24 anos, os mais pobres, os pretos e pardos e os consultados com Ensino Fundamental.
As pesquisas Ipec analisadas foram realizadas entre 12 e 15 de agosto, com 1.008 votantes, e entre 30 de agosto e 1º de setembro, com 1.200 eleitores. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. No primeiro levantamento, Lula alcançou 40% dos votos, ante 35% de Bolsonaro. No segundo, as variações ocorreram dentro da margem de erro, com Lula batendo 42%, e Bolsonaro, 34%. Os números analisados são os das pesquisas estimuladas, ocasiões em que um disco com o nome dos candidatos foi apresentado aos entrevistados.
Lula e os evangélicos
A campanha de Lula tem buscado contato com os fiéis de igrejas evangélicas. O objetivo é reduzir a vantagem de Bolsonaro no segmento. No Rio Grande do Sul, as duas pesquisas mostraram que o petista alcança 35% entre este público, enquanto Bolsonaro vai a 45%.
É um ponto de resistência a Lula, já que ele venceria entre católicos. O petismo se afastou dos evangélicos desde o final do governo Lula (2010) e, hoje, enfrenta forte oposição de lideranças do segmento religioso devido a pautas conservadoras.
Um dos sinais mais evidentes da tentativa de aproximação foi a participação de Lula em um culto evangélico, com a presença de pastores e fiéis, na sexta-feira (9) passada, em São Gonçalo (RJ). Houve pregação, canto gospel e manifestações em tom messiânico.
Outra medida do PT teve o objetivo de conter os boatos que circulam em redes sociais de que ele fechará igrejas. Ao digitar no campo de busca do Google as palavras “Lula” e “igrejas”, aparece no topo de página um anúncio pago pela campanha do petista dizendo o seguinte: “Lula não quer fechar igrejas. A verdade é que Lula é cristão”. Ao clicar no link, o leitor poderá verificar outras argumentações de que Lula já foi presidente por dois mandatos e nunca fechou igrejas. É dito que Lula “favoreceu os evangélicos” e são citadas leis sancionadas sob o governo Lula que seriam de interesse do setor.
A campanha petista também criou recentemente, e cadastrou junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contas em redes sociais destinadas exclusivamente a conversar com o público evangélico. Os perfis estão em atividade, mas, em geral, ainda têm poucos seguidores.
A estratégia central de Lula é o foco na política econômica, com sinalização de valorização do salário mínimo. O candidato costuma traduzir isso para o popular com o discurso de que as famílias humildes voltarão a ter o “churrasquinho e a cerveja” de final de semana. Ou seja, o destinatário da mensagem é o cidadão da camada mais pobre, eleitorado entre o qual ele leva vantagem.
Para os setores mais abastados, onde enfrenta dificuldade de voto, Lula tem dito que sua política vai fazer girar a economia a partir do consumo, beneficiando a todos.
Bolsonaro, as mulheres e os mais pobres
Duas das faixas em que as dificuldades do presidente Jair Bolsonaro (PL) são notáveis ficam entre as mulheres e os mais pobres. Entre as eleitoras do Rio Grande do Sul, o Ipec apontou que Bolsonaro obteve intenções de voto de 31% e 26%. A campanha do presidente tem empreendido esforços para melhorar o desempenho entre o gênero feminino. Uma das estratégias visíveis é explorar a imagem da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, cuja persona carrega fortes traços religiosos. Ela tem sido presença constante em eventos, sempre em posição de destaque, como nos atos do 7 de Setembro.
Na busca por suavizar a imagem do presidente com o público feminino, Michelle chegou a ancorar integralmente uma das propagandas eleitorais de Bolsonaro. A peça teve a veiculação suspensa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque apoiadores, condição em que a primeira-dama participou da gravação, somente podem ocupar 25% dos espaços de inserção ou propaganda.
Encontros presenciais com mulheres também estão sendo organizados. No dia 3 de setembro, o presidente esteve em Novo Hamburgo (RS) para participar de um ato denominado Mulheres pela Vida e pela Família. O evento mobilizou cerca de 4,5 mil mulheres, teve contornos religiosos e contou com discurso de Michelle, antes da manifestação do próprio Bolsonaro.
Às vésperas da eleição, a Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou uma série de políticas especiais para as mulheres, como redução de juros para crédito e isenção de tarifas.
O eleitorado mais pobre é outra fonte de resistência ao candidato à reeleição. Nas famílias com renda de até um salário mínimo, Bolsonaro registrou intenções de voto de 22% e 20%, menos da metade dos patamares alcançados por Lula.
O presidente adotou medidas para tentar ganhar votos nesta camada, mais notadamente a decretação de estado de emergência e aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que aumentou o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 às vésperas da eleição. Também houve ampliação do vale para compra de gás de cozinha e a criação de benefícios para caminhoneiros e taxistas. Todas as medidas são temporárias, com validade até dezembro de 2022, e foram insuficientes até o momento. As duas pesquisas Ipec analisadas revelam que, dentre os entrevistados que têm no seu domicílio pessoas que recebem benefícios federais, Bolsonaro anotou 30% e 27% de intenções de voto, ante 52% de Lula nos dois levantamentos.