O dado é do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): as mulheres são a maioria dos eleitores no Brasil, com 53% e mais de 82 milhões de votantes nas eleições de 2022. Ao observar os números, não é preciso ser gênio nem dotar de inteligência acima da média para entender a relevância do voto das eleitoras, no caso de quem deseja alcançar a vitória nas urnas em outubro.
Parece óbvio, não é? Mas a realidade está bem longe do que parece.
Ainda que destinem seus espaços de propaganda em rádio e TV às mulheres, com programas milimetricamente pensados em destacar a importância delas na sociedade, o que se vê como real é um mundo distante do apresentado pela publicidade.
No debate desta terça-feira (13), promovido pela TV Cultura, Folha e UOL, um deputado estadual agrediu, ameaçou e fez diversas intimidações à jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva e colunista do jornal O Globo. A questão aqui não é sobre gostar ou não do conteúdo produzido pela jornalista — você tem todo o direito de discordar dela, inclusive —, mas de uma tentativa covarde de tentar impedi-la de exercer o seu ofício.
Não é a primeira vez. E, infelizmente, mostram as estatísticas, não será a última.
Todos os dias, milhões de mulheres acordam cedo e buscam garantir o sustento de suas famílias no Brasil. Não são poucas as que ficam pelo caminho. O motivo? São mulheres.
Em caso recente, no Mato Grosso do Sul, uma mulher morreu com 90% do corpo queimado depois de passar um mês internada na Santa Casa de Campo Grande. Dias antes de morrer, a vítima teve uma melhora e, ao acordar de um coma que durava semanas, acusou o marido de tê-la queimado em frente aos filhos, de 10 e seis anos. Violência explícita que levou à morte.
No caso da jornalista Vera Magalhães, ela precisou deixar o debate escoltada por seguranças devido a ameaças às quais vem sendo submetida diariamente, em especial após o debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes.
Como a coluna já pontuou uma série de vezes, é assustador ser mulher no Brasil.
Está mais do que na hora de o discurso bonito da propaganda política deixar o plano subjetivo e se transformar em ações práticas de combate a agressões, ameaças e atos violentos contra as mulheres. Se não for pela importância do tema, que seja ao menos por inteligência. Somos 53% do eleitorado. A maioria. E ninguém aguenta mais tanto desrespeito.