Durante debate para o governo de São Paulo na noite desta terça-feira (13), o diretor de redação da TV Cultura, Leão Serva, que era o mediador do evento, tirou o celular da mão do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) e arremessou longe, no momento que o parlamentar hostilizava a jornalista Vera Magalhães.
Usando um celular para gravar o ato, o parlamentar foi até Vera e a chamou de "vergonha para o jornalismo brasileiro", reproduzindo uma informação falsa, fomentada por ele mesmo, sobre a remuneração anual dela na TV Cultura. Neste momento, Serva surge do meio da multidão presente, toma o celular da mão de Garcia e o arremessa para longe.
O jornalista se manifestou em vídeo após a atitude, dizendo que a "única solução possível naquele momento era afastá-lo (o deputado) da ‘lacração’".
— Ele tem uma prática de assédio contra a Vera Magalhães há um bom tempo. Inclusive foi à TV Cultura usando suas prerrogativas de deputado para obter uma cópia do contrato de trabalho dela e divulgou na Assembleia Legislativa como se o salário anual dela fosse mensal. O deputado veio aqui com a intenção de, como eles gostam de falar, "lacrar". Portanto, entendo que a única solução possível naquela hora foi afastá-lo da "lacração" e por isso interrompi a gravação que ele estava fazendo — explicou Serva.
Em 2020, Garcia e o também deputado estadual paulista Gil Diniz, conhecido como Carteiro Reaça (PL), acusaram Vera Magalhães, no plenário da Assembleia Legislativa paulista, de receber R$ 500 mil por ano da Fundação Padre Anchieta, que gere a TV Cultura, para atacar o presidente Jair Bolsonaro.
Pelas redes sociais, o candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), apoiado por Bolsonaro, manifestou repúdio ao ato do deputado estadual, que classificou como "agressão".
"Lamento profundamente e repudio veementemente a agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães enquanto exercia sua função de jornalista durante o debate de hoje. Essa é uma atitude incompatível com a democracia e não condiz com o que defendemos em relação ao trabalho da imprensa", escreveu. Segundo Vera, ele também a telefonou para manifestar solidariedade.
Os também candidatos ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB) repudiaram o ataque de Douglas Garcia contra a jornalista.
"Repúdio total ao ataque covarde sofrido pela jornalista Vera Magalhães pelo deputado Douglas Garcia em uma clara tentativa de ataque à liberdade de imprensa, método bolsonarista de intimidação contra a democracia", escreveu o petista.
O tucano disse que o ataque "não representa os valores democráticos". "Meu total repúdio ao ataque covarde que a jornalista Vera Magalhães sofreu, após o debate da TV Cultura, vindo de um sujeito que não representa os valores democráticos nem o povo de São Paulo. Minha solidariedade a você, Vera", escreveu Rodrigo Garcia.
Em nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenaram "de forma veemente a agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães".
"A intimidação e ofensas desferidas contra Vera Magalhães pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) são uma tentativa de constranger o livre trabalho da jornalista e uma inaceitável agressão à liberdade de imprensa. A ABERT, a ANER e a ANJ repudiam as agressões, esperam as devidas providências em relação à atitude do parlamentar e alertam para a necessidade de respeito à atividade da imprensa como parte essencial do sistema democrático", diz o texto.