As celebrações do 7 de Setembro deste ano serão marcadas pelo clima eleitoral em todo o país. A menos de um mês das eleições, as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, nesta quarta-feira (7), serão intercaladas com atos políticos promovidos por diferentes grupos, que aproveitam a data para reunir suas bases eleitorais em diversas capitais.
Em Porto Alegre, a partir das 10h, ocorre o desfile cívico-militar na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, junto à orla do Guaíba, que será aberto ao público e contará com a participação de 5 mil militares e civis.
Também às 10h, ocorrerá uma regata pelo Dia da Independência, organizada pela Liga de Defesa Nacional, mas cujos apoiadores falam francamente em ato de desagravo ao presidente Jair Bolsonaro.
— Estamos prevendo a presença de 400 embarcações decoradas em verde e amarelo, entre barcos de pesca, lanchas e jet-skis. Será em apoio ao presidente, por tudo que ele fez nos últimos quatro anos — resume o deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), um dos organizadores do "Desfile Náutico", como vem sendo chamado o ato.
Os barcos devem se concentrar no Pontal do Estaleiro (antigo Estaleiro Só, no bairro Cristal) e percorrer o Guaíba até atracar nas proximidades do Cais Embarcadero, junto à Avenida Mauá (no Centro Histórico). A organização admite que a regata deve coincidir com o desfile militar e diz que isso foi idealizado, "para criar o clima de 7 de Setembro".
Os movimentos assumidamente de direita também farão outra manifestação, durante a tarde do dia 7, no Parque Moinhos de Vento (Parcão). Apoiadores de Bolsonaro devem se concentrar ali a partir das 14h e isolar parte das pistas da Avenida Goethe. A animação será da Banda Loka Liberal, e grupos de motociclistas também anunciam comparecimento.
— É um evento também solidário. Haverá arrecadação de alimentos e estarei lá, como voluntária. Participarão os gaúchos que defendem a liberdade — diz Paula Cassol, integrante do movimento Livre Iniciativa RS, que ajuda a organizar o evento.
A esquerda também planeja manifestações para o dia 7, mas longe das planejadas pela direita. A ideia é evitar conflitos. Como ocorre há 28 anos, organizações sindicais, religiosas e grupos de defesa de causas indígenas vão realizar o Grito dos Excluídos e das Excluídas, em contraponto ao desfile militar do 7 de Setembro e em protesto contra o governo Bolsonaro.
Em Porto Alegre, o ato será marcado por uma marcha prevista para começar às 9h, com concentração em frente à Igreja São José do Murialdo (Rua Vidal de Negreiros, 550, no bairro Partenon). A ideia é percorrer alguns quilômetros até a Igreja São Judas (Rua Juarez Távora, 171), no mesmo bairro, em frente ao campus da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS). Ali deve ser realizado um almoço comunitário.
— O lema deste ano é A Vida e a Democracia: Terra, Pão, Trabalho e Teto. Vamos falar sobre o agravamento da fome e dizer não ao golpe que muitos ficam pregando por aí — resume Amarildo Cenci, presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), que participa do Grito dos Excluídos.
Embora militantes de esquerda planejem participar do Grito dos Excluídos, uma manifestação maior dos partidos ligados a esse campo ideológico foi postergada para o dia 10. Nessa data, deverá ocorrer um ato de apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O evento deverá se repetir nas principais cidades do país, incluindo Porto Alegre, e reunirá também outros partidos com viés esquerdista.
— Serão atividades diversificadas durante todo o dia, desde organização de comitês por Lula presidente até panfletagens, bandeiraços, banquinhas em praças públicas. Tudo em apoio à campanha — informa Juçara Dutra Vieira, vice-presidente do PT-RS, uma das organizadoras.
Em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, entre 9h e 10h, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro iniciam a concentração para um tratoraço na cidade. A saída do ato está prevista para as 13h, com os tratores na frente, seguidos por quadriciclos, motos, caminhões e carros. A estimativa é de que cerca de mil veículos participem do ato, com participantes de outras cidades da Serra, como São Francisco de Paula e Flores da Cunha.
Outro ato está programado para acontecer em Caxias do Sul, além do tratoraço. A partir das 15h, o movimento Nas Ruas concentra os manifestantes também na Praça Dante Alighieri, mas pelo lado da Avenida Júlio de Castilhos. Esse ato será uma comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil, apoio a Bolsonaro e um pedido por transparência nas eleições.
Na capital federal
Em Brasília, o desfile cívico-militar contará com cerca de 3,1 mil militares no ato previsto para as 9h. A estimativa é de que 500 mil pessoas compareçam ao evento. O presidente Jair Bolsonaro (PL) vem convocando seus apoiadores há meses e grupos de vários Estados já chegaram à capital federal.
Aproximadamente 600 integrantes da Marinha, 2 mil do Exército e 500 da Aeronáutica participam dos atos em Brasília. De acordo com o Ministério da Defesa, participarão, ainda, veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), integrantes do Programa Força no Esporte, além de ex-integrantes das forças de paz e alunos de escolas do governo do Distrito Federal.
Além do desfile, haverá apresentações da banda marcial do corpo de fuzileiros navais da Marinha; da pirâmide humana sobre motocicleta, realizada por integrantes do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília; demonstração aérea da Esquadrilha da Fumaça, da Força Aérea Brasileira (FAB); e salto de paraquedistas militares na Esplanada dos Ministérios.
Durante a manhã, Bolsonaro participará do evento na Esplanada dos Ministérios. Após desfile militar, a partir das 13h, haverá ato com grupos pró-Bolsonaro que se inscreveram junto à Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal.
No Sudeste
As festividades no Rio de Janeiro devem iniciar com um desfile cívico-militar na Avenida Duque de Caxias, na Vila Militar, segundo o Comando Militar do Leste (CML). A partir das 8h, o 31º Grupo de Artilharia de Campanha deve realizar uma salva de tiros de artilharia no Forte de Copacabana, de hora em hora. Durante a manhã, há previsão de uma Parada Naval com a participação de navios da Marinha do Brasil e de países amigos, partindo do Recreio dos Bandeirantes, em direção à Baía de Guanabara.
À tarde, a partir de 13h, está planejado pelo CML a cerimônia comemorativa dos 200 anos da Independência do Brasil na Avenida Atlântica, na altura da Avenida Rainha Elizabeth, em Copacabana. A solenidade terá apresentações de bandas de música, da equipe de salto livre de paraquedas, além das acrobacias da Esquadrilha da Fumaça.
O presidente Jair Bolsonaro deve acompanhar, a partir das 15h, parte das celebrações oficiais das Forças Armadas. Integrantes do governo não confirmam se o presidente irá discursar. Apesar de orientações para que ele evite declarações com tom eleitoral, aliados acreditam que Bolsonaro deve ter como foco a "defesa da liberdade". Segundo a coluna Radar, da Revista Veja, uma motociata com 25 mil motocicletas está programada para rodar a zona sul do Rio durante a tarde.
Em São Paulo, a festa da Independência contará com desfiles, shows e a reabertura simbólica do Museu do Ipiranga, onde devem ficar centralizadas as atividades desta quarta-feira. Para os paulistas, Bolsonaro deve falar por meio de uma transmissão ao vivo direto de Copacabana. Um telão deve ser instalado no caminhão de som do movimento Nas Ruas para a exibição.
Presidenciáveis disputam espaço
Para disputar espaço com Bolsonaro, que terá atos de apoiadores em diversos locais, os demais postulantes ao Planalto também buscaram meios de angariar apoio em meio ao 7 de Setembro. Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB) marcaram agendas alusivas à data para a quarta-feira. O pedetista vai passar o dia em Ouro Preto (MG), base da Inconfidência Mineira, e a senadora visitará uma fazenda em Jaguariúna, no interior de São Paulo, por onde passou Dom Pedro I e onde morou a primeira deputada eleita do Brasil.
Simone Tebet também gravou um comercial para o horário eleitoral gratuito com a bandeira do Brasil.
— Essa bandeira não tem partido. Essa bandeira não tem dono. Essa bandeira é de todos nós — diz a candidata emedebista na propaganda.
Na mesma linha, a candidata do União Brasil, senadora Soraya Thronicke (MS), gravou comercial alusivo ao Dia da Independência na propaganda eleitoral gratuita com o mote “A favor da Democracia e contra golpes; contra o ódio e a favor da paz e da união”.
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo aliados do presidente, já “precificou” o feriado da Independência e abriu mão de fazer grandes atos de rua na quarta-feira, mas os marqueteiros do ex-presidente reforçaram a presença da bandeira e das cores nacionais nos eventos de campanha petistas.